Sandra Lassak

 

"O melhor lugar do mundo é onde Deus me quer". São José Freinademetz

Sandra Lassak – "... a nossa felicidade só pode existir em dependência da felicidade do meu irmão, da minha irmã. E se elas vivem em condições que impedem isso, eu sou chamada a lutar para colaborar na construção de um mundo de justiça, de solidariedade e irmandade entre todas nós."

 

 

Site: Sandra, fale sobre você e sobre seu trabalho.


Sandra: O meu nome é Sandra Lassak, tenho 29 anos e sou formada em teologia. Há dois anos trabalho em conjunto com a I. Bettina Rupp, na Alemanha, coordenando o programa das missionárias leigas da congregação.
Partindo da minha experiência nesse trabalho de coordenadora das missionárias leigas e também, de minhas próprias experiências como missionária leiga que fui, nos anos 1995/96 no Chile, quero fazer algumas reflexões sobre o que, para mim, significa a missão e o que me trouxe agora ao Brasil.
Foram aquelas experiências densas que fiz na minha estadia no Chile, naquele tempo, que não me deixaram quieta e que me encaminharam para onde estou agora. Acho que foram tais vivências que me animaram a seguir colaborando no grupo das missionárias leigas, na Alemanha.

Site: O que é o MaZ?


Sandra: Esse programa denominado “MaZ” (Missionária para um tempo), foi iniciado nos anos 80, quando algumas e alguns jovens pediam às congregações religiosas missionárias a oportunidade de poder fazer uma experiência missionária, a partir delas, por um tempo determinado. Como resposta, foi desenvolvido um programa de preparação e colaboração no serviço missionário temporário. Nosso objetivo principal, nesse programa, consiste em oferecer a pessoas leigas a oportunidade de conhecer a igreja e sua dinâmica em contextos culturais diferentes e onde as condições de vida, muitas vezes, são extremamente precárias, que é a situação de grande parte das pessoas, no mundo. Além disso, o programa dá às jovens a oportunidade de participar na vida e no trabalho das religiosas.

Site: Na sua opinião, o que é que move essas jovens a sair para trabalhar em outros países? 


Sandra: Penso no meu caso, o que moveu a mim mesma a deixar por um ano minha família, amigas, tudo aquilo já bem conhecido e enfrentar outras realidades muito diferentes daquelas então vividas?
Muitas de nós desde pequenas já participamos nas paróquias, nas comunidades, nas pastorais juvenis, em grupos de solidariedade ou em movimentos sociais. A motivação religiosa para uma inserção num país estrangeiro joga um papel importante, o que leva as jovens a escolher uma congregação religiosa como parceira de uma tal experiência. Não é só o mero desejo de fazer um serviço social, que nos move, mas também a vontade de viver a espiritualidade num contexto concreto, de crescer nela e compartilhá-la com pessoas que têm uma vivência religiosa diferente e assim também aprender duma outra prática cristã. 
Um outro motivo que conta muito na decisão de assumir esse serviço missionário está na inquietude de conhecer uma outra realidade, uma realidade sobretudo marcada pela precariedade, pobreza, violência e pela luta cotidiana pela sobrevivência. Sabemos que a nossa realidade na Europa não é a realidade principal desse mundo; sabemos que situações de muita injustiça e estas nos dão o impulso para enfrentar, conhecer e chegar a entender essas realidades e mesmo, de compartilhá-las, de certa maneira. Conhecer tais situações de forma mais direta e pessoal, fazer amizades com pessoas que vivem o seu dia a dia nessas situações, se por um lado nos choca, por outro, despertam o desejo de procurar caminhos de transformação.

Site: E na prática, como isso se dá?


Sandra: O enfrentamento com tais situações precárias muitas vezes produz em nós um sentimento de impotência, pois sabendo que não somos capazes de mudar o mundo.
Lembro-me ainda bem de quando pela primeira vez acompanhei uma Irmã a uma visita às famílias de povoado, na Cordilheira dos Andes, onde havia uma comunidade das SSpS. Fiquei chocada vendo que as famílias de lá só tinham casas de barro, construídas sobre o chão, algumas com apenas dois quartos. E quantas casas não tinham outro móvel dentro, senão duas ou três camas, uma mesa com algumas cadeiras e um lugar para cozinhar.
Durante aquele ano que morei lá pude conhecer as penas e sofrimentos daquelas famílias, mas também, compartilhei suas alegrias e tive momentos de felicidade com elas. Olhando para trás, vejo aquelas famílias, os rostos das crianças com as quais brincava, os rostos das mulheres que muitas vezes me falaram sobre suas vidas, os sofrimentos que haviam passado e que continuavam, suas preocupações pelas filhas. Tenho consciência de que foram essas pessoas que um dia me moveram e ainda me movem a lutar por um mundo melhor. Por um mundo em que todas podemos viver bem, em que ninguém tenha que passar fome ou frio, marginalização e exclusão de qualquer forma. São tais experiências de convivência, de conhecimento, abertura e participação na vida e no sofrimento da outra, que penso, dão sempre o impulso para um compromisso autêntico, tanto social como político.

Site: Qual é a relação de vocês com a juventude européia, em geral? 


Sandra: Voltando dos países e lugares de missão, queremos manter a inquietude que despertou na missão. Queremos integrá-la em nossas realidades na Europa, em nossas comunidades, nas paróquias e nos grupos dos quais participamos. Por isso, de volta à nossa terra, muitas de nós assumimos compromisso seja nas comunidades, na igreja, nos movimentos sociais ou na sociedade, mais ampla. E, segundo meu ponto de vista, acho que esse é o aporte maior que nossa experiência missionária pode oferecer aos jovens lá na Europa, onde a grande maioria está absorvida pelo mercado, perseguindo só os próprios desejos individuais: De abrir-lhes os olhos e o coração, sabendo e sentindo que a nossa felicidade só pode existir em dependência da felicidade do meu irmão, da minha irmã. E se elas vivem em condições que impedem isso, eu sou chamada a lutar para colaborar na construção de um mundo de justiça, de solidariedade e irmandade entre todas nós.

Site: Como você concretiza isso?


Sandra: A realização desse compromisso pode ser concretizada de formas diferentes. No meu caso, influencio na decisão de estudar a Teologia, de participar na comunidade dos estudantes de grupo de solidariedade com Chile, de continuar no grupo das missionárias leigas na Alemanha, de participar em atividades sociais e políticas que lutam contra as injustiças e processos de marginalização, também em nosso país, por ex. o desemprego, os migrantes e outros que também existem e cada vez se tornam mais agudos. Como integrar isto tudo? Orientando-me na pessoa de Jesus, que expressou uma opção decidida pelos que foram excluídos da sociedade, que passaram pela pobreza, que viveram a opressão; tento ter sensibilidade e ver a historia e a realidade onde estou desde a perspectiva daqueles e aquelas que estão fora dela.
Então, para mim, tem sido importante manter um nexo, uma ligação, também com pessoas do outro lado do mundo, de não ver só a realidade que me rodeia, senão sempre ter em vista as lutas que se fazem em diferentes partes do mundo contra o sistema dominante opressor. Por isso também decidi de escolher como tema do meu doutorado em Teologia: “A situação das mulheres rurais aqui do Brasil”, as suas lutas, a mística que as move para enfrentar a vida e continuar a luta para uma vida melhor.

Site: Como foi sua experiência no Fórum Social Mundial?


Sandra: Esta viagem ao Brasil, agora pela terceira vez, foi uma viagem de esperança e de alimento, reforço da utopia na qual cremos. A oportunidade de participar no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, me fez ver que em muitos lados do mundo existem grupos, pessoas que crêem que alternativas ao sistema existente sejam possíveis, e que lutam e procuram caminhos para realizá-la. Além do Fórum, os grupos de mulheres camponesas, sejam mulheres dos assentamentos dos Sem-Terra, as quebradeiras de Coco ou dos outros movimentos camponeses, com as quais pude estar neste tempo, são para mim um símbolo da esperança. Conheci mulheres lutadoras, guerreiras e sonhadoras que apesar das dificuldades e sofrimentos, mantém viva a visão de que realmente um outro mundo é possível.
E, com essa esperança revivida, volto agora para Alemanha esperando não apenas manter esse espírito lá, mas também transmiti-lo à minha gente.

Sandra Lassak, coordenadora do MAZ - Alemanha
abril/2005

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