Superar a Miséria e a Fome

Neste final de semana as Dioceses do Estado de S. Paulo estão reunidas em Itaici, para a sua assembléia anual. Desta vez, o objetivo da reunião é encontrar maneiras concretas de colaborar na superação da miséria e da fome.

Em abril deste ano, meses antes das eleições, a CNBB madrugou na convocação da sociedade brasileira, propondo um mutirão nacional para a superação da miséria e da fome como prioridade indiscutível a ser assumida por todos os brasileiros, com a convicção de sua urgência e com a certeza de sua viabilidade.

Terminadas as eleições e definido o seu resultado, o novo governo anuncia o combate à fome como símbolo de sua visão política e como primeira meta de sua administração.

É evidente a força que resulta desta convergência de intenções. Abre-se uma nova perspectiva, de soma de esforços e de complementação de ações, que sinaliza um novo relacionamento entre governo e cidadania.

Desta maneira, a proposta de um consenso pactuado, envolvendo adequadamente as instâncias estatais e as organizações da cidadania, aspiração antiga da política nacional, pode encontrar na superação da fome a forma concreta de se desenhar, para depois ir tomando consistência mais ampla, para também enfrentar os inúmeros desafios que aguardam há longo tempo solução adequada.

A superação da fome se apresenta, portanto, como um bom começo de um novo tempo de articulação positiva entre governo e sociedade.

Uma iniciativa não dispensa a outra. Seria equívoco achar que se o governo tem boas intenções, a sociedade pode se eximir de fazer a sua parte. A maturidade política supõe a superação da dicotomia entre as esferas estatais e as instâncias da sociedade, e pede o entrosamento adequado e dinâmico, de ambas as partes, para que o processo de enfrentamento dos problemas tome a direção certa, e seja conduzido com lucidez e eficácia.

Neste sentido, a cidadania tem sempre uma missão permanente a exercer, diante do governo, de vigilância crítica e de colaboração propositiva, denunciado ambigüidades e sugerindo iniciativas válidas, para serem assumidas pelo governo e secundadas pelo apoio da sociedade.

Isto vale ainda mais para a situação de miséria e de fome. Pois não há realidade que se preste mais à exploração política do que a condição de indigência da população. Pois a fome do povo é o melhor alimento para saciar a fome de corrupção dos demagogos e dos seus coadjuvantes.

Nestas últimas eleições, muito voto foi extorquido da consciência do povo pela ameaça da fome. Em muitos municípios, o argumento eleitoral mais eficaz foi advertir os eleitores que se não votassem em tal e tal candidato, “o leite seria cortado”, “o município perderia as verbas”, “funcionários seriam despedidos”.

Há certos políticos que só se sustentam com a fome do povo. Esses não têm nenhum interesse em superar a miséria e a fome. Inclusive porque é a miséria do povo que torna barata a sua campanha política. Pois assim contratam à vontade cabos eleitorais desempregados e miseráveis, comprando o voto deles e de suas famílias a preço vil, com a vantagem de despistar os rigores da lei contra a corrupção eleitoral.

Em tempos de Natal vai se tornando tradição um apelo mais insistente para a solidariedade humana diante da fome de muitos brasileiros. Mesmo que a nova ação governamental só comece depois, as campanhas do “Natal sem fome” já podem ser um bom teste para depurar estas iniciativas dos vícios da exploração política, e para torná-las eficazes pela colaboração mais generosa, pela organização mais atenta e pela articulação mais racional entre todos os que participam de sua promoção.

No mutirão nacional para a superação da miséria e da fome temos, portanto, uma iniciativa fecunda, que pode se tornar o início de uma nova mentalidade política. É um bom começo, para testar nossa disposição de enfrentar também as causas geradoras de nossos problemas.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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