De volta para casa

Não foi como gostaríamos. Não foi nem geral, muito menos irrestrita, mas possibilitou a volta de milhares de exilados/as políticos/as, há 25 anos. As diretas-já (embora traídas), a constituinte, a constituição.
Não como gostaríamos, mas trouxe um mundo de felicidade. É de se comemorar os/as meninos/as, a maioria da classe média, de volta pra casa.
Não voltaram os do andar inferior. Porque nem casa tinham. Nem sabemos se um dia terão. Ao relento, expostos à zombaria dos que tudo têm, não voltam pra casa. Não têm pra onde voltar.
Parece que isso não incomoda. Esquecidos dos que dizem lutar por justiça. Porque os que voltaram, galgaram os postos que lhes estavam reservados desde sempre.
Como se fosse pouco não ter para onde voltar: desprezados/as, zombados/as, esquecidos/as. Escondidos/as durante os grande eventos. Recolhidos/as para não ferir os delicados olhos dos/as filhos/as do privilégio.
Pensei que ao chegar ao jubileu de prata da anistia, tivéssemos muito a comemorar. Não temos, a despeito da eleição direta, da constituinte. Esquecidos foram os do andar de baixo. Galgados os postos de comando, as desigualdades já não incomodam.
`As vésperas desse jubileu, cenas sangrentas nos despertam: a anistia ainda está engatinhando. Faz-nos lembrar que a tortura nunca foi erradicada para os presos comuns, para os do andar de baixo. Só incomodou quando atingiu os do andar de cima.
O hediondo espancamento – alguns até a morte - de pessoas indefesas é um alerta. É o aguilhão para as consciências embotadas. É a recusa dos privilegiados em dividir o espaço com quem tem os direitos negados. O exemplo de onde pode chegar quando se vive placidamente alheio às gritantes desigualdades.
A exceção talvez seja apenas a Pastoral de Rua. Nenuca, Isabel, Inácio, Ester,... Há cinco décadas já percorriam as ruas, as noites da amargura. Ouviam suas histórias de vida, vida dos filhos da pobreza. Que dor e que indignação delas se apossaram.
Quando uma sociedade não mais é tomada de indignação diante de tal hediondez, não tem sentido comemorar a anistia. 25 anos de direitos para alguns/as, espancamento e morte para outros. Sem democracia para valer, não há o que comemorar. Estamos de luto.

Iolanda Toshie Ide
Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Lins;
Representante da Pastoral da Mulher Marginalizada no setor de Pastorais Sociais da CNBB;
Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Ação " Educação e questões de Gênero", da UNESP de Marília / SP

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