Evangelho e Política

A fé tem alguma coisa a ver com a política? Se olhamos o Evangelho, podemos logo dizer que tem tudo a ver!

Em primeiro lugar porque o próprio Evangelho está repleto de política, do começo ao fim. Desde o seu nascimento, Jesus foi confrontado com César Augusto (Lc 2,1). Se não fosse o recenseamento decretado pelo império, não teríamos as cenas bonitas e encantadoras da noite de Belém. E a morte de Cristo na cruz, afinal das contas, foi decretada por motivos políticos. As autoridades judaicas só conseguiram encurralar Pilatos quando apelaram para a política: “Se soltas este, não és amigo de César” (Jo 19, 12).

Apesar das evidências desta intrincada vinculação do Evangelho com a política, muitos cristãos têm dificuldade de perceber a relação do seu voto com sua fé. Na verdade, é um desafio estabelecer a adequada correlação entre fé e política.

Talvez a idéia de que, segundo o Evangelho, a política não teria nada a ver com a fé, vem da equivocada interpretação de uma das mais famosas sentenças de Cristo. Interpelado pelos fariseus se era lícito pagar tributo a César, para sair da armadilha que a pergunta trazia em seu bojo, Jesus surpreendeu a todos com sua conhecida resposta: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus! (Mt 22,21).

À primeira vista, esta resposta parece estabelecer uma dissociação, como se César não tivesse nada a ver com Deus. Como se a religião e a política fossem duas ordens de realidades completamente dissociadas, ou mesmo incompatíveis.

Na verdade, com sua resposta Jesus colocou a política sob o critério da fé. Como sempre ele fazia, colocou Deus como a referência fundamental, que tudo deve iluminar e conduzir. O que Jesus diz, de fato, é que se damos a Deus o que é de Deus, saberemos dar a César o que é de César. Há uma coerência prática a estabelecer, entre nossa fé em Deus e nossos compromissos políticos.

A mesma coerência é urgida por Cristo a propósito de outra questão que lhe apresentaram, sobre o primeiro mandamento. Aliás esta passagem se encontra no mesmo capítulo vinte e dois de Mateus, onde está a resposta sobre o tributo a César. Todo mundo sabia de cor e salteado que o primeiro mandamento era o amor a Deus. A novidade de Jesus, e a surpresa de sua resposta, foi estabelecer um vínculo indissociável entre o primeiro e o segundo mandamento, entre o amor a Deus e o amor ao próximo. Perguntado sobre o primeiro, Jesus logo adverte que existe um segundo mandamento! (Mt 22, 39). Não basta o primeiro, é preciso observar também o segundo. Aliás, o segundo serve de comprovação da veracidade prática do primeiro.

Pois bem, aí todos concordam que existe um vínculo indissociável entre Deus e o próximo. Também entre César e Deus é preciso operacionalizar a correta relação, que o Evangelho decreta e também ensina a fazer.

Advertido do perigo que representava Herodes, o mesmo que já tinha decepado a cabeça de João Batista, Jesus não teve receio de mandar o recado conveniente: “Digam a esta raposa... que eu prossigo o meu caminho hoje e amanhã e também depois de amanhã” (Lc 13, 32-33). Se todo bispo, todo padre, todo pastor tivesse a mesma lucidez, coragem e altivez de Cristo, muitas raposas que ainda estão empoleiradas em cargos públicos já teriam sido banidas da política.

Se os cristãos tivessem a clarividência da pequena Maria, que cedo enxergou como Deus “derruba do trono os poderosos, e eleva os humildes” (Lc 1,52), muitos corruptos que andam comprando o voto dos humildes já teriam sido derrubados dos seus tronos, feitos da prepotência do dinheiro e das trapaças do poder.

Votar bem é um compromisso de todo cidadão. Para o cristão é, além disto, um desafio de coerência com sua fé.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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