Hora de discernimento

O evangelho relata um episódio que pode se aplicar à situação vivida pelo país, com este alarido em torno de denúncias de corrupção.

Diz o relato de João que os fariseus levaram a Jesus uma mulher apanhada em adultério. Pela lei, devia ser apedrejada. Mas o interesse dos fariseus não era tanto condenar a mulher, mas desestabilizar o profetismo de Cristo. Tanto que, se fossem mesmo zelosos no cumprimento da lei, nem precisavam levar o caso a julgamento público, em pleno templo de Jerusalém.

Percebendo a cilada, Jesus evitou uma resposta imediata. Mas como insistissem, o Mestre deu o bote que atingiu a todos, e desmascarou a hipocrisia dos acusadores. "Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra!", disse ele. E tranqüilamente passou a escrever com o dedo no chão.

Diante desta proposta de Cristo, os fariseus foram saindo todos, "a começar pelos mais velhos".

Francamente, olhando a cena armada com as atuais acusações de corrupção, dá para reconhecer muito fariseu se arvorando em paladino da moralidade, acusando os outros para encobrir suas próprias falcatruas.

Se fosse fazer como Cristo, e escrever no painel do Congresso todas as trapaças já feitas pelos atuais atores políticos que bancam agora as acusações, quantos deles precisariam fazer como os fariseus, e cair fora de fininho antes que fossem lembradas suas práticas de corrupção. Como observa o Evangelho, os veteranos seriam os primeiros a se retirar.

O que está em jogo não são atos isolados de corrupção. É preciso perceber o processo que leva ao clima propício para o desvirtuamento da política. E proceder a mudanças profundas, sobretudo no relacionamento entre o Congresso e o Executivo.

No citado episódio evangélico, o Cristo nos ensina a superar o âmbito da condenação, para propor uma mudança de vida. "Nem eu te condeno", disse ele à mulher pecadora. Mas em seguida acrescentou: "vai, e não tornes a pecar".

Daquela fez, foi o Cristo a fazer a mediação. Agora, é a vez da cidadania entrar em ação, e urgir uma mudança política para valer. Caso contrário, permanecem os mesmos personagens, revezando-se nas funções de acusadores e acusados.

Esta intervenção da cidadania já começa a tomar forma, na proposta concreta apresentada por diversas forças sociais. O leque das reivindicações é amplo, englobando ao mesmo tempo o combate à corrupção, mas também o combate à desestabilização política do governo. Igualmente, mudança na política econômica com prioridade ao atendimento dos direitos sociais, junto com reformas políticas democráticas.

Se a situação pede uma mobilização nacional, o povo brasileiro saberá encontrar energias para empreendê-la. E é bom que, desde logo, os políticos saibam disto.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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