DIREITO AO ALIMENTO

Na rodoviária um italiano recém-chegado indagou sobre como chegar à cidade universitária. Conversa vai conversa vem, descobri que fazia mais de 6 horas que fizera a última refeição. Buscara um restaurante simples mas percebeu que era mais caro que na Europa.

A maioria das pessoas que fazem compras de alimentos in natura são mulheres. A todo momento ouço comentários sobre as altas de preço. Em outros tempos, havia a prática de estoques reguladores que seriam liberados quando as altas dos preços eram praticados, ou até antes disso.
 
A 2ª Guerra Mundial cunhou o conceito de segurança alimentar e plantou os alicerces da chamada Revolução Verde. Ganhava a guerra quem tivesse o domínio dos alimentos. Com a desculpa de vencer a fome, iniciou-se uma corrida à superprodução de alimentos por meio do uso intensivo de fertilizantes químicos e agrotóxicos.
 
Sabemos no que resultou: em 2,5 meses se produzem tomates às custas de 36 pulverizações. As monoculturas agrediram o meio ambiente com desmatamentos, poluição de nascentes de água, pulverizações aéreas que provocaram muitas enfermidades, inclusive contaminação do leite materno. A produção cresceu, os lucros ainda mais. No entanto, o número de pessoas que passam fome também aumentou.
 
Há alimentos para os mais de 6 bilhões de pessoas que habitam essa terra tão devastada, mas o acesso é assimétrico. Enquanto o desperdício reina nas classes A e B, a classe D faz malabarismos para ter acesso a uma cota insuficiente de alimentos. As grandes redes de supermercados adquirem a preço vil (houve o que chegou a pagar 80 centavos por uma caixa de cenoura que vendeu a 2 reais o quilo) quase toda produção de alimentos e revende pelo preço que lhe aprouver. As maiores são responsáveis por mais de 24% do mercado mundial. A população acaba capturada sem ter como se safar. Em Paris, as/os cidadãs/os francesas/es compram nas feiras livres diretamente dos produtores orgânicos. Aos imigrantes pobres resta a alternativa de compras nos supermercados, submetendo-se a preços inconvenientes.
 
A ganância, a fome pantagruélica de lucro fácil é que produz a fome. Não sem razão Josué de Castro, autor de Geografia da Fome e Geopolítica da Fome, foi um dos primeiros a serem atingidos pela ditadura iniciada em 1964. Nem conseguiu retornar, falecendo no exílio. Junto com Betinho, são de saudosa memória. A este Dom Mauro Morelli chamava “meus diretor espiritual” e Betinho devolvia chamando-o meu Bispo, embora nem fosse católico.
 
As mulheres sabem da dor de não ter o que colocar na panela para cozinhar para seus filhos. Por isso, em fins da década de 70, desencadearam a grande marcha das panelas vazias. No passado, foram elas que andaram quilômetros para buscar água e lenha transportadas na cabeça. Foram elas que roçaram e produziram os alimentos quando ainda puderam permanecer na terra. Expulsas por políticas agrícolas aquivocadas, agora pelejam para dar de comer à sua prole nas periferias das cidades, nas favelas e cortiços, quando não debaixo de pontes.
 
A Revolução Verde e as indústrias alimentícias vieram para concentrar o lucro e impedir que a população como um todo tenha acesso aos alimentos de qualidade. Soberania alimentar, já!
 
Iolanda Toshie Ide     

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