Devastadora crise humanitária

As indústrias da morte cresceram exponencialmente, não só as de armas como também as que produzem os mais variados venenos que comprometem a saúde de bilhões de seres, inclusive os humanos. O complexo que produz e emana gás carbônico ao redor do mundo, nem sequer questiona o padrão de transporte e consumo. Difícil entender a escolha da morte quando se pode preferir a vida.

 
Por trás de muitas incursões responsáveis por invasões, negociatas escusas, atentados contra populações tradicionais, está a água a qual um bilhão de pessoas não tem acesso nem só para beber. Outros dois bilhões também não a teem para comer e fazer a higiene, acarretando alto percentual de mortalidade direta, como também indiretamente por desnutrição e doenças decorrentes do precário acesso à água.  As migrações forçadas estão aí para atestar as privações a que estão submetidas milhões de pessoas. Uma aguda e devastadora crise humanitária, declara o Instituto Internacional da água.
 
Assim como nos saquearam durante cinco séculos, países do hemisfério norte continuam avançando sobre nossas fontes de água, como por exemplo a Nestlé. Os canaviais, a agropecuária, a lavoura de soja, a carcinocultura, a indústria da celulose e do aço, as mineradoras além do contrabando de madeiras nobres, são outras modalidades de saque que afetam diretamente as reservas aqüíferas.
 
A aritmética nos diz que a água do planeta Terra é suficiente para mais que o triplo de sua atual população de 6,5 bilhões. Menos de 900 represas impedem a correnteza da maioria dos rios do mundo provocando evaporação e privando de acesso à água a maioria das populações ribeirinhas. A despeito das denúncias sobre os negativos riscos ambientais, no Brasil, em nome do desenvolvimento, uma centena de grandes represas estão para serem construídas. A maioria para gerar energia barata para grandes empresas poluidoras. Na Bolívia, a reação da população indígena contra a privatização da água (tentou-se até privatizar a água das chuvas!) derrubou o presidente.

Conheci lavradores/as tradicionais do Vale do Rio São Francisco que, atualmente, além de não poderem mais cultivar suas roças de feijão e cebolas, não têm acesso à água nem para beber. Os recursos para a revitalização são parcos. No entanto para desviar suas águas para a irrigação de produtos agrícolas e pesqueiros para exportação, os recursos públicos são generosos e ágeis. Mais uma vez, para os ricos, a água correrá abundante, mas para os pobres, restam carros-pipa semanais.
 
Menos submissos aos assaltos de transnacionais do hemisfério do norte, agora eleitos – alguns também pela força do FSM – novos presidentes desenham outra configuração no cenário da América Latina. A crise financeira que eclodiu no mundo a partir do império estadunidense revela que os participantes do FSM tinham e teem razão. Outras brechas se abrem para propostas que não as do pensamento monolítico que endeusou o mercado e priorizou a especulação.
 
A realização do Fórum Social Mundial na Pan-Amazônia certamente enseja uma séria reflexão com propostas e cobranças aos vários governos. Experiências exitosas como a da ASA (Articulação do Semi Árido) merece amplo apoio público. Ao contrário, já passou da hora de deter iniciativas de “desenvolvimento” que desmatam, poluem rios e nascentes privando a população pobre de acesso à água.
 
As várias experiências desastradas ocorridas em todo mundo, impediram 60 milhões de meninas de freqüentar aulas, obrigadas que foram a buscar água percorrendo grandes distâncias, quase que diariamente, com pesadas latas sobre suas cabeças, em prejuízo do crescimento e da saúde. Como sempre, são mulheres, adultas ou não, as que pagam o preço mais alto pelos empreendimentos equivocados. O FSM da Pan Amazônia vai mostrar que é possível superar essa devastadora crise humanitária. Outro Mundo é possível.
Iolanda Toshie Ide

 

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