Sem Medo e Sem Ilusões

Chegamos ao segundo turno das eleições. Podemos enfrentá-lo com serenidade, sem medo, mas também sem ilusões.

Conciliar as duas dimensões parece ser a medida certa para a situação que o Brasil está vivendo. Sem o medo criado por alarmismos inconsistentes, e também sem as ilusões derivadas da superficialidade ou desinformação. A democracia nos oferece a chance de assumirmos, responsavelmente, os destinos do país, conscientes da gravidade dos problemas, cuja solução certamente não é fácil, mas também não impossível, se fortalecermos a solidariedade que resulta de nossa responsabilidade de cidadãos.

O medo não é bom conselheiro. Não ajuda para medir o tamanho dos desafios a enfrentar, nem colabora para assumir com discernimento a atitude conveniente diante deles. O medo deixa a pessoa enredada em suas apreensões subjetivas, e dificulta a percepção dos caminhos que a realidade pode oferecer para a superação das dificuldades.

Ao mesmo tempo, é preciso vacinar-se contra a ilusão das soluções mágicas, que não existem, ou das propostas voluntariosas, que se realizariam pelo simples fato de fazerem parte de nossos desejos. Não dá para ignorar a realidade, com o peso de sua dinâmica, e com as conseqüências das causas já postas.

Deixar de lado o medo também não significa assumir uma coragem quixotesca, que predispõe para bravatas que logo se desmoralizam. Por isto, o contrário do medo não é a coragem. É a serenidade, consciente das próprias limitações, mas confiante no poder que resulta da disposição de fazer o que está ao nosso alcance, quando percebemos o caminho certo a empreender.

Em política, o medo deve desaparecer quando a nação percebe que chegou a hora de enfrentar os problemas. Neste caso, quem ainda tem medo, deve deixar o posto para os que inspiram ânimo e prontidão para todos aderirem com esforço e tenacidade às soluções que precisam ser buscadas em comum.

O próprio Evangelho nos socorre, iluminando a situação. Com perspicácia, S. Paulo nos alerta, dizendo: “não recebestes espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes o Espírito que vos torna filhos”. (Rom 8, 15). Portanto, o medo não é para cristãos. Pois Deus nos oferece a força do seu Espírito, que nos anima a enfrentar com confiança os desafios da vida presente.

Em tempo, antes de conhecermos o resultado das eleições, é oportuno reafirmar uma verdade histórica pesada e contundente: nunca um Presidente da República assumiu o seu posto com um acúmulo de dificuldades como desta vez. Além do embate com problemas comuns à globalização excludente que assola hoje o mundo inteiro, o País foi afundando em dependência financeira que chega aos limites da suportabilidade. As conseqüências se fazem sentir, sobretudo na limitação drástica de recursos indispensáveis para a administração dos setores mais incidentes na vida da população. Por outro lado, a urgência de mudanças criou um acúmulo de expectativas, com o risco de cobranças precipitadas.

Por isto, é grande o desafio que aguarda o novo presidente. Junto com a disposição de lhe apresentar os cumprimentos por sua eleição, precisamos estar prontos a hipotecar-lhe solidariedade irrestrita e eficaz. Pois precisamos assumir este desafio junto com ele.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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