Missionária Dorothy

Estamos ainda todos perplexos diante do frio atentado que tirou a vida da Irmã Dorothy Stang, em Anapu, no Pará. Os estilhaços das balas que mataram a freira de 73 anos de idade nos atingiram a todos. Seu sangue respingou em cada um de nós. E agora nos sentimos todos convocados a prestar contas desta inaudita violência que não se detém nem diante de uma pessoa de Deus como era a Irmã Dorothy.

Entre tantos depoimentos, uma pessoa assim descreveu a Religiosa: “Suave e firme, dedicada como poucos, apaixonada pelo Brasil e pela gente da Amazônia, deixou sua terra, os Estados Unidos, e veio para a nossa. Morava em casa simples, usava sandálias de dedo como o povo pobre daquela região. Falava um português da roça com sotaque americano. Mas era só o sotaque. Pois tinha deixado a ideologia do norte e tinha assumido o compromisso com a gente de nosso sofrido continente”.

A Prelazia do Xingu, e a CPT, em sua Nota Oficial divulgada no dia 16 de fevereiro, são contundentes em denunciar o contexto gerador deste clima de violência que chega ao extremo de assassinatos frios e premeditados.

Em primeiro lugar, a injusta estrutura fundiária do nosso país: “Sua morte – diz a Nota - denuncia, diante do Brasil e do mundo, a absurda estrutura rural de concentração da terra em grandes propriedades, ao lado de milhões de famílias que, teimosamente, buscam, sem consegui-lo, um pequeno pedaço de chão que lhes sirva de abrigo e que providencie seu sustento.”

A política econômica do governo acaba avalizando as ambições do latifúndio, que, segundo a Nota: “mascarado de agronegócio e modernidade, quer manter esta estrutura fundiária intocada, porque isto lhe garante a manutenção do seu poder hegemônico e seus privilégios sobre todas as instâncias do Estado brasileiro. Fazendeiros, madeireiros, plantadores da soja, acobertados pelo discurso da produtividade, avançam sobre as terras públicas, sobre territórios ocupados pelas populações tradicionais - indígenas, ribeirinhos, posseiros e muitos outros. Promovem a grilagem de terras, a devastação das florestas e do cerrado, a poluição das águas, usando para isso, até com apoio político e policial do governo estadual, muitas formas de violência, que vão desde a intimidação, passando pelo trabalho escravo e chegando ao assassinato.”

Ainda de acordo com a Nota, “Do lado do Estado temos um Judiciário cuja praxe na questão da terra tem sido lamentável. Os juízes, na sua maioria, não assimilaram ainda o avanço constitucional da função social da propriedade da terra. Este Poder tem se mostrado extremamente parcial ao expedir liminares de reintegração de posse contra lavradores, sobre áreas com titularidade muitas vezes duvidosa, inclusive contra comunidades tradicionais, que ocupam as terras há dezenas de anos. O mesmo Poder é extremamente lento para julgar crimes cometidos contra os lavradores. Das 1.379 mortes no campo, registradas pela CPT, de 1985 a 2004, somente 75 casos foram julgados, tendo sido condenados apenas 15 mandantes e 64 executores”.

A Nota continua dizendo que “o testemunho de Irmã Dorothy exige que a Reforma Agrária se torne, efetivamente, uma ação prioritária do Governo Federal, sem medo de desapropriar o latifúndio e com peso financeiro não inferior ao que é prodigamente dado ao agronegócio. Que se retomem as terras públicas invadidas por grileiros e sejam destinadas para projetos de assentamento. Que se ampliem os recursos para o combate ao trabalho escravo; que se rompa o acordo efetuado com os madeireiros, suspendendo todos os planos irregulares de manejo florestal.”

O assassinato da Irmã Dorothy Stang aconteceu no momento em que as Igrejas lançavam no Brasil, com inspiração ecumênica, a Campanha da Fraternidade pela paz. Este triste acontecimento mostra que providências urgentes precisam ser tomadas para que a violência seja banida, e a paz possa ser uma realidade para todos os brasileiros.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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