Dom Oscar Romero - Corpo Imolado Não por nós mesmos

Há três anos Oscar Arnulfo Romero chegara a San Salvador “para por ordem na diocese”. Recebido com pompa e convidado para jantares com os militares, sabia a que viera. Logo percebera que deveria conter um dos padres, envolvido que estava com as lutas pela defesa da população empobrecida de um dos bairros mais fervorosos. Não conseguindo argumentos para dissuadi-lo, inquietava-se e se sentia desconfortável. Estava prestes a romper a tolerância, quando chega a notícia de seu assassinato.
Quando o corpo chegou à igreja para ser velado, uma súbita indagação interior o inquietou: e se for ele o verdadeiro seguidor do Evangelho? Foi quando me converti, declarou. Desde então tentara interceder junto às autoridades na defesa dos direitos dos mais empobrecidos. Vira seus e suas auxiliares sendo presos/as, torturados/as, assassinados/as. Para defendê-los/as, enfrentou os militares, os mesmos que o festejaram em sua posse. Formados (ou deformados) pela Escola das Américas, a escola de assassinos, que assassinaram 200 mil na Guatemala e implantaram as várias ditaduras da América latina, inclusive a do Brasil, espalhavam o terror em San Salvador.
A tarde já caíra na capela da Divina Providência. Como vinha fazendo ultimamente, Dom Oscar Romero implorava que cessassem os assassinatos: Que este corpo imolado e este sangue sacrificado pelos homens nos alimentem, para que, como Cristo, também saibamos dar nosso corpo e nosso sangue no sofrimento e na dor, não por nós mesmos mas para trazer Justiça e Paz para o nosso povo.
Estas palavras repletas de dor e urgência, foram seguidas por um disparo mortal que o deixou diante do altar, em uma possa de sangue. Era 24 de março de 1980.
Depois dele mais nove padres e duas mulheres da Universidade Católica de San Salvador foram assassinados/as.
Nesses 25 anos do assassinato de Dom Oscar Romero, esperávamos que a paz finalmente imperasse nessa América Latina já tão massacrada, mas ano após ano, a violência institucionalizada vem ceifando vidas, as mais preciosas. Assistimos a mais uma morte anunciada (estivera há pouco em Brasília denunciando as ameaças), a da Irmã Dorothy Mae Stang, no dia 12 de fevereiro. Defensora dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS) e dos direitos das populações mais empobrecidas. Pagou com a vida o enfrentamento de madeireiros, latifundiários e gananciosos do agronegócio que invadem terras públicas onde vivem populações tradicionais (indígenas, ribeirinhos, posseiros, e demais pequenos trabalhadores rurais.
Desde 1985, já são 1.375 assassinatos no campo brasileiro (523 no Pará), apenas 75 foram julgados, condenados 64 executores e 15 mandantes, sendo que nenhum dos mandantes se encontra preso.
Só em 2003, 35.292 famílias foram despejadas da terra; em 2004 foram outras 34.850 famílias. Até quando?

Iolanda Toshie Ide
Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Lins;
Representante da Pastoral da Mulher Marginalizada no setor de Pastorais Sociais da CNBB;
Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Ação " Educação e questões de Gênero", da UNESP de Marília / SP

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