Mt 5, 38-48
“Sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu”
Na verdade, o texto de hoje, continuando as leituras do Sermão da Montanha (Mt 5-7), continua o tema da leitura do domingo passado. Mais uma vez enfatiza que atrás de todas as nossas ações existem sentimentos, ou disposições, internos. Por isso Jesus dá o verdadeiro sentido à Lei, dizendo que o discípulo não pode se contentar em não agir mal, mas tem que mudar a sua maneira de entender o mundo, as pessoas e às relações. Com autoridade, “Eu digo”, ele exige que os seus seguidores não somente não agem como o mundo age, mas que dão uma vira-volta nos valores dele. Enquanto “olho por olho, dente por dente” era, nos tempos idos, um grande avanço sobre a lei da vingança exagerada, Jesus exige que os seus discípulos vão adiante, tirando até o desejo de vingança e retribuição, assim desarmando o mal e criando uma sociedade de novas relações. Sem dúvida, uma visão utópica, mas utopia não é ilusão, mas o ideal que nos norteia e encoraja até que finalmente, passo por passo, ela se concretize.
Esses versículos insistem que o modelo para a vida cristã e as suas atitudes não é a sociedade vigente, onde cristãos muitas vezes se contentam em agir exatamente como outros, dentro do que é aceitável em uma sociedade que não segue o Evangelho. Ele insiste nesses versículos que ser cristão não é simplesmente ser como qualquer um (“os pagãos"), mas é ter outros valores e uma outra visão. E qual é o fundamento desses valores, desse modo de agir? Não é o exemplo da sociedade e do mundo, mas o exemplo do nosso Pai. Jesus não deixa por menos “sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu”. Obviamente nunca poderemos ser “perfeitos” como o Pai do céu. Essa frase relembra Dt 18,13 onde a Lei recomenda ao povo de Israel que seja perfeito na sua adesão ao Senhor. O Evangelho de Lucas explicita melhor ainda o sentido desse frase quando ensina “sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso” (Lc 6,36).
Sem rodeios, esses versículos nos levam a examinar as nossas atitudes e ações, especialmente em relação à vingança, o ódio, à dureza de coração, à compaixão e à misericórdia. A nossa medida nesses aspectos, é a nossa sociedade, ou o nosso Pai? Se nós agimos e pensamos como qualquer outro, o que fazemos de extraordinário?
Tomaz Hughes SVD
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