SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM (17.01.10)

A primeiro parte do Quarto Evangelho é comumente chamado “O Livro dos Sinais”, pois o evangelista relata uma série de sete sinais que, passo por passo, revelam quem é  Jesus, e qual é a sua missão. (Embora algumas bíblias traduzem o termo grego que João usa por “milagre”, a tradução mais acertada é “Sinal”).  O primeiro desses sinais aconteceu no contexto das bodas de Caná, o evangelho de hoje.  Como todo o Evangelho de João, o relato está carregado de simbolismo, onde pessoas, números e eventos funcionam simbolicamente, para nos levar além da aparência das coisas, numa caminhada de descoberta sobre a pessoa de Jesus.

Um dos temas centrais do quarto evangelho é o da “hora” de Jesus.  A "hora” não se refere à cronometria, mas a hora de glorificação de Jesus, por sua morte e ressurreição.  Em resposta ao pedido feito por Maria (João nunca se refere a ela pelo nome, mas pelo título “mulher”), usando duma maneira até estranha este termo para a sua mãe, João quer indicar que Jesus rejeita uma esfera meramente humana de ação para Maria, para reservar para ela um papel muito mais rico, ou seja, o da mãe dos seus discípulos.  Maria somente vai aparecer mais uma vez neste evangelho – a pé da cruz, onde ela e o Discípulo Amado assumem um relacionamento de Filho e Mãe.  Devemos lembrar que o Discípulo Amado simboliza a comunidade dos discípulos do Senhor, ou seja, nós hoje.
 
Apesar da nossa tradição piedosa mariana, é importante não reduzir a ação da Maria no texto à de uma incomparável intercessora.  Embora seja comum esta interpretação na devoção popular, não se sustenta do ponto de vista exegética. É melhor ver Maria aqui como discípula exemplar, pois embora a resposta de Jesus indique um distanciamento entre a sua expectativa e a visão dele, ela continua com confiança nele e leva outros a acreditar nele.
 
O simbolismo da água tornada vinho é também importante.  Não era qualquer água - era a água da purificação dos judeus.  Com esta história, João quer mostrar que doravante os ritos judaicos de purificação estão superados, pois a verdadeira purificação vem através de Jesus.  Podemos entender isso como a mudança de uma prática religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita gente, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir de Jesus.  Assim, em Cana, Jesus começa a substituir as práticas do judaísmo do Templo, que vai continuar ao longo do Evangelho de João.
 
            A quantia do vinho chama a atenção – 600 litros!  O vinho em abundância era símbolo dos tempos messiânicos, e, na tradição rabínica, a chegada do Messias seria marcada por uma colheita abundante de uvas.  Assim João quer dizer que a expectativa messiânica se realiza em Jesus.  As talhas transbordantes simbolizam a graça abundante que Jesus traz.
 
A figura do mestre-sala é também simbólica, bem como os serventes.  Aquele, que devia saber a origem do vinho da festa, não sabia, enquanto estes sim.  Assim, o mestre-sala represente os chefes do Templo que não sabiam a origem de Jesus enquanto os servos representam os discípulos que acreditaram nele.
 
            Fazendo comparação entre o vinho antigo e o novo, João quer reconhecer que a Antiga Aliança era boa, mas a Nova a superou.  Os ritos e práticas judaicos, ligados à purificação e ao sacrifício, não têm mais sentido, pois uma nova era de relacionamento entre a humanidade e Deus começou em Jesus.
 
            O ponto culminante do relato está em v,11: “Foi em Caná que Jesus começou os seus sinais, e os seus discípulo acreditaram nele”.  A fé deles não é intelectual ou teórica, mas o seguimento concreto do Mestre, na formação de novos relacionamentos de amor.  Passo por passo, o autor vai revelando Jesus através de sinais para que nós, os leitores possamos "acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus.  E para que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome”(Jo 20,31).

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