O melhor lugar do mundo é onde Deus me quer". São José Freinademetz
Desde a Margem - Releitura sobre Inserção nos Meios Populares
Irmã Edni Gugelmin no seu livro "Desde a Margem", faz uma releitura sobre sua experiência de Inserção nos Meios Populares.
Escrevi da abundância do coração. Não está aqui a história da área, tal como fora programada, mas parte de minha história pessoal e de minhas reflexões, entrelaçadas com fragmentos da história e da contribuição de tantas outras companheiras de sonhos e de lutas.
Bom seria se muitas mais passassem a limpo suas próprias memórias, tributo ao passado que nos constituiu tal como somos hoje, sinais de nossa passagem pelo tempo e marcas que conduzem ao futuro que outras construirão. Afinal, se todas somos singulares, cada experiência é também única e merece ser registrada.
Títulos do Sumário
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Abertura; Introdução;
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A sedução da margem;
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Tornai retas as veredas;
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Como o eco ou a palavra não volta sem seu fruto;
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As seis primeiras; Um novo olhar;
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O conflito anunciado;
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Ninguém sabe o que diz quando fala dos pobres;
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Uma dor chamada compaixão;
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Pedra de tropeço ou apesar de você;
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Outras paixões;
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O que foi feito da vida?;
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A pior de todas;
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Caçadoras de nós;
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Do Espírito de Servas ao Espírito-Sofia;
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Humanas barreiras;
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Raízes ou a solidariedade é tudo;
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Inadiáveis desafios ou pouco a pouco o campo se alarga e se doura;
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O anel de tucum ou em busca da terra sem males;
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YVY MARÃ EI;
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Canção da mulher que escreve.
Leia trechos de alguns do livro: Desde a Margem
Reeleitura sobre Inserção nos Meios Populares
Irmã Edni Gugelmin no seu livro "Desde a Margem", faz uma releitura sobre sua experiência de Inserção nos Meios Populares.
Sedução da Margem
..."Naquela manhã, quando cheguei com “mala e cuia” para morar com as Filhas da Cruz na periferia de Juiz de Fora, encontrei o grupo transtornado. As Irmãs haviam passado a noite atendendo a uma família, cujo marido, como de costume quando bêbado, espancava a mulher diante dos olhos traumatizados de três crianças. Nicole observou: “Esta foi nossa oração da manhã”....
O conflito anunciado
...Um caso exemplar da intensidade das transformações ocorridas no grupo a partir do lugar da inserção foi a missão na Vila Remo. Iniciada como pastoral de catequese nos finais de semana, acabou por se tornar um vasto e dinâmico espaço animado pela Teologia da Libertação. Consequentemente engajada numa pastoral libertadora, era um dos bastiões da defesa dos direitos humanos, sistematicamente violados sob o arbítrio da ditadura militar, então em pleno vigor. Engajada até às entranhas, não é motivo de surpresa o fato de que da paróquia de Vila Remo saiu o testemunho martirial de Santo Dias da Silva, em outubro de 79. Metalúrgico, coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese, o amigo e colaborador Santo foi covardemente assassinado pela polícia repressiva do governo nomeado pela ditadura militar em São Paulo....
Uma dor chamada compaixão
...No sertão encontramos outro Jó, que lamentava a perda prematura da filha de 7 anos, ofendida letalmente por uma cobra venenosa, enquanto brincava. O pai sofria buscando consolo na vontade de Deus, enquanto a mãe, como um animal mortalmente ferido, se esquivava, encerrada em seu próprio silêncio....
Pedra de tropeço ou apesar de você
...Se a Igreja não saiu ilesa da fúria da ditadura foi porque ela, a Igreja, também se posicionou. Na verdade, como instituição, foi a única que teve condições de abrigar as aposições ao regime e coragem para dar voz aos seviciados e calados pela tortura e pelas baionetas. Como poderia deixar de registrar o cenário de agosto de 1978, dia marcado para uma manifestação do Movimento Contra a Carestia, na Praça da Sé, em São Paulo Na véspera do acontecimento, as forças de segurança proibiram a realização do ato. A Arquidiocese não titubeou. Abriu as portas da Catedral para que o sagrado direito de manifestação popular pudesse ser realizado, se não na praça, legítimo espaço do povo, pelo menos no Templo, espaço legítimo dos fiéis. Como separar o direito e a justiça do culto que agrada a Deus? Foi andando entre as patas irrequietas da cavalaria que nos aproximamos da Sé e foi sob a mira ameaçadora das armas que subimos os degraus benditos da Catedral, palco de tantas demonstrações de fé e de solidariedade. Lembro-me que, uma vez no topo, voltei me para encarar de frente o que até então só vira nas telas: uma praça preparada para a guerra....
Outras paixões
...As conquistas, ainda que pequenas e/ou incompletas, também nos sustentaram durante esses anos. O despertar de algumas para a luta por seus direitos; a melhoria nas condições de vida de certas comunidades, os gestos de solidariedade mútua nas dificuldades; a conquista de lugar para morar, de terra para plantar; a devolução da terra a seus legítimos donos (indígenas e posseiros); as iniciativas que, brotadas da reflexão evangélica e/ou da consciência da cidadania, enriqueceram a comunidade, tudo isso reverteu a nós em forma de energia, de satisfação. Também a vida é um dom comunitário, pois é dando que se recebe....
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