Ir. Malgarete fala sobre o povo e a missão no México

"O melhor lugar do mundo é onde Deus me quer". São José Freinademetz

Irmã Malgarete, a Malga, é natural de Videira, SC. Entrou na Congregação em 1987 e emitiu os primeiros votos em 1991. trabalhou em São Luiz/MA por 4 anos. Fez Serviço Social em Brasília. Em 26 de outubro de 2001, partiu em missão para o México. Em sua primeira visita ao Brasil, Malgarete fala sobre o povo e a missão no México.

“No México, encontrei um povo muito acolhedor, alegre, apesar de sofrido. A maioria é indígena, porém, multi-cultural, isto é, proveniente de várias etnias, descendentes de dois grandes povos: os Maias e os Astecas.

Nossa Província mexicana também é multi-cultural. Quando cheguei lá, há três anos, pertencíamos a 16 nacionalidades. Minha comunidade era formada por representantes de 3 continentes: Europa, Ásia e Américas.

Minha missão desde o início foi em Chiapas, o que é muito interessante para mim pela história daquela região, pelos 40 anos de trabalho pastoral local, sobretudo de Dom Samuel Ruiz, que ajudou os Indígenas a levantar a cabeça, a orgulhar-se de sua origem e cultura.
Chiapas tem uma linha pastoral bem definida desde o sínodo da diocese. É uma Igreja autóctone, evangelizadora, libertadora e em comunhão, que caminha sob a inspiração do Espírito Santo. Sua pastoral é integrada.
Nossa comunidade SSpS foi iniciada em 26 de janeiro de 2002, foi resultado de uma nova opção e um Estado novo, Chiapas, terra dos Zapatistas.

O grande desejo da Província era o de trabalhar com os Indígenas. Mas, prudentemente, a meu ver, ela começou com as comunidades mestiças, até conseguir inculturar-se melhor. Iniciamos visitando 43 comunidades eclesiais em 10 bairros. Observamos por aproximadamente um ano, para só depois assumir. Decidimos assumir por áreas pastorais específicas. O social não era muito trabalhado naquela região. Então, criamos as Pastorais dos Direitos Humanos, das Mulheres e da Liturgia.

Formamos um Comitê Paroquial de Direitos Humanos e, ao mesmo tempo, procuramos formar promotores e promotoras de Direitos Humanos em várias cidades. O Comitê nasceu com o objetivo de criar uma cultura dos Direitos Humanos.

No trabalho com as Mulheres nossos objetivos são:
a) trabalhar a mística baseada na palavra de Deus (Bíblia), lida com olhos, mente e coração de mulher;
b) analisar a realidade nas perspectivas social, política, econômica religiosa e cultural, sob a ótica de gênero;
c) observar as construções sociais das relações de gênero, que nos discrimina como mulheres e como essa construção é passada ‘as gerações seguintes pela educação';
d) conhecer melhor a história das lutas e rebeliões a desde o século XVIII, partir da ótica das mulheres, sobretudo, ressaltando o protagonismo das próprias mulheres, descobrindo seus feitos, sua importância.
Uma tal desconstrução leva ao mesmo tempo a uma reformulação da posição das mulheres na sociedade, fazendo-as crescer em liderança e auto-estima.

A organização das mulheres está baseada sobretudo na economia solidária, através da fabricação de pão, confecção de bordados e artesanato próprio, o que também é fundamental à preservação dos valores culturais.
Tudo isto se trabalha em grupos. Temos encontros locais, regionais e diocesanos. Somos 3 religiosas que trabalham na área de Mulheres, o que constitui uma sub-equipe. Esses encontros, muitas vezes, contam com mais de 100 mulheres. Nessas ocasiões, há muita partilha de experiências. Contamos com assessoria do grupo “Mulheres em Diálogo” e da “Casa de Apoio da Mulher”, de Palenque, que dão assessoria, seja nas questões referentes à saúde, ou nas áreas jurídica e psicológica. Por contarmos com apoio institucional, nossos cursos podem fornecer, inclusive, certificados.

Através de projetos, a CODIMUD, Coordenadoria Diocesana de Mulheres comprou um terreno, onde está sendo construída a Nossa Casa – Casa das Mulheres, com capacidade para 100 leitos. Então, teremos muito mais condições para realizar cursos e atividades.
Com relação aos Direitos Humanos, contamos com um escritório paroquial em Playas de Catazajá. Nosso objetivo principal aqui é favorecer uma cultura de Direitos Humanos. Para tanto realizamos cursos, seminários, consultas populares e encaminhamentos. Recentemente realizamos um seminário sobre ecologia e meio ambiente, centrando a atenção principalmente nas condições da lagoa que existe na área.
O grande desafio, para mim, é , sobretudo, conhecer melhor a cultura do povo com quem trabalho, sua língua, suas crenças e mitos e orações. Quero a prender o Cho´l, língua do Povo Cho´l, com o qual pretendo trabalhar.
Tenho muita alegria na missão, percebo muita receptividade por parte do povo, que tem muita vontade de se organizar e melhorar de vida.