NOSSO INIMIGO É O MEDO

Vivia-se sob o triste jugo da ditadura do general René Barrientos. Uma greve de mineiros culminou no que ficou conhecido como massacre de São João, em 24 de junho de 1967. Uma mulher grávida, manifestou seu repúdio contra os militares que mataram dezenas de homens e mulheres nas minas Século XX e Catavi. Foi presa, recebeu chutes dos militares e o filho que nasceu na cela acabou morrendo. 

Ao apoiar uma outra greve de mineiros/as, a mesma mulher acabou perdendo filhos gêmeos, durante a ditadura de Hugo Banzer. Aderiu a uma greve de fome, iniciada por quatro mulheres pela redemocratização da Bolívia, sendo seguida por milhares de compatriotas. Conseguiram o decreto de anistia aos presos e exilados políticos e a promessa de eleições. 

1975, no México, acontecia a Primeira Conferência Internacional da Mulher. Feministas de classe média alta e intelectuais foram surpreendidas por essa mulher simples e decidida: Domitila Barrios de Chungara. Declarou que sua luta não era contra os homens, mas contra a exploração do trabalho de homens e mulheres efetuada pelo sistema que a ambos domina.Conclamou à luta contra à dominação e opressão do capitalismo. 

Quase todos os dirigentes foram assassinados durante a ditadura. Quando deixou o trabalho nas minas em 1986, Domitila fundou uma escola para contar aos jovens a história da Bolívia que poucos conheciam. Começou explicar“porque na Bolívia, um país tão rico em recursos naturais e minerais, a gente vive tão pobre. Levam nossa matéria prima quase de graça e depois as devolve a nosso país em forma de produtos, bastante caros.” 

No ano 2.000, Domitila denunciou o governo que negociou a privatização dos serviços de água com a estadunidense Bechtel. Houve muita reação e o governo respondeu com balas ocasionando a morte de muitas pessoas. A Central de trabalhadores que estava meio adormecida reagiu e engrossou o movimento das mulheres que ocuparam Cochabamba. Depois da guerra da água, seguiu-se a do gás em La Paz, em 2001. As mobilizações culminaram na queda do presidente. 

Sobre a situação da Bolívia na última década, Domitila denunciou os interesses estrangeiros e golpistas que apoiaram os movimentos de independência de certos estados como Santa Cruz, Sucre, Tarija, Beni e Pando. O empresário croata Marinkovic até cercou uma lagoa para que a população não se aproximasse. Ele é financiador de uma célula que pretendia assassinar o presidente Evo Morales, afirmou Domitila. 

No dia 13 de março último fomos surpreendidas com a notícia da morte, aos 75 anos, dessa extraordinária professora de política. Mas seu legado aqui fica. Em resposta a sua pergunta sobre quem eram os inimigos dos trabalhadores, alguns responderam que era burocracia, outros, o imperialismo, a oligarquia. Não companheiros, disse ela, nosso inimigo principal é o medo, e o levamos dentro de nós.

 

Iolanda Toshie Ide

 

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