MORTES PREMEDITADAS

Estávamos no hotel, de saída para o local em que mulheres realizavam uma das atividades do Fórum Social das Américas na Guatemala. Uma senhora que acabara de chegar da Nicarágua fez questão de apresentar-me um livro-denúncia. Difícil esquecer as fotos de trabalhadoras/es contaminadas/os, ela inclusive, por Nenagón, agrotóxico largamente utilizado na Nicarágua resultando em mais de mil falecidos.

 

Antes, o vazamento de 40 toneladas de metil isocianato da Union Carbide causou a morte de mais de 8 mil pessoas nos três primeiros dias do acidente de Bophal (Índia). Gás tóxico componente de inseticida para lavoura, levou a outras 8 mil mortes. A Dow Chemical adquiriu a Union Carbide, 100 mil pessoas ainda sofrem graves seqüelas da contaminação.

 

Segundo Rosalía Ciciolli, em dezembro de 2003, cerca de 300 famílias foram contaminadas pelas fumigações de glifosato e paraquat, produzidos pela Monsanto, nas lavouras de soja de dois grandes produtores, a 270 km de Asunción (Paraguai): um japonês e outro alemão.

 

Herman Schelender, brasileiro produtor de soja pulverizou sua lavoura atingindo mortalmente o menino Antonio de Ocampos de 11 anos de idade. Dias depois, Alfredo Laustenlager, outro brasileiro, igualmente provocou a morte de Silvino Talavera, da mesma idade.

 

A CONAMURI (Coordenadoria Nacional de Organizações de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Indígenas) reagiu fortemente exigindo que o parlamento se posicionasse com urgência. Resultou no decreto 1937/09, do presidente Fernando Lugo, porém, os agrotóxicos continuaram sendo utilizados indiscriminadamente nas lavouras de brasileiros.

 

No bananal da Del Monte Fresh Fruits (com sede na Flórida) na Chapada do Apodi, Ceará, faz-se pulverizações aéreas com agrotóxicos. Raquel Rigotto, professora da Universidade Federal do Ceará, encontrou água contaminada nos poços artesianos, lençol freático e também nas torneiras domésticas. José Maria Filho, líder comunitário, conseguiu convencer um dos vereadores a propor uma lei – aprovada - proibindo as pulverizações aéreas. No dia 21 de abril de 2010, foi assassinato com 18 tiros quando retornava para casa. A lei foi revogada.

 

Embora a contaminação da água tivesse sido já denunciada reiteradamente, as pulverizações prosseguiram em Lucas do Rio Verde (MT). Em recente pesquisa, a equipe da professora Danielly Palma da Universidade Federal do Mato Grosso, encontrou, agrotóxico presente no leite de 62 mães. A morte ronda não só a elas, mas a bebês, à população em geral e à biodiversidade.

 

A conversão da terra em mercadoria vai de mãos dadas com o uso e abuso da química na agricultura, diz a física e escritora indiana  Vandana Shiva. A ONU estima a intoxicação de 25 milhões de trabalhadoras/es com 400 mil mortos num único ano. Mais uma vez, as mulheres são as mais atingidas.

Iolanda Toshie Ide

 

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