YANAPANAKUSUN ajudemo-nos

            Às colegas da chamada terceira idade, apresento Vittoria Sávio, 75 anos, graduada em física e matemática, especialista em Física Nuclear, professora na Escola Superior de Camagnola, de 1961 a 1979, na província de Turim (Itália).

            Ao se aposentar, dispôs-se ao voluntariado do Movimento Leigo Italiano para a América Latina. Ela declara que gostaria de ter ido para a Nicarágua que precisava de médicas e enfermeiras. Como não se enquadrava em nenhuma dessas profissões, ofereceu-se para Puno (Peru), local para onde ninguém se dispusera se dirigir devido à grande altitude (de 3.200 a 4.500 metros). Após 10 anos, foi chamada a atuar na capital (Lima), onde permaneceu até 1992 quando regressou ao altiplano como diretora executiva do “Centro de Apoio Integral às Trabajadoras del Hogar”(CAITH).
            Em Cuzco, há 300 mil habitantes, 10 mil são trabalhadoras domésticas. Vittoria foi tocada pelas crianças indígenas. Desde muito pequenas (a partir de 4 anos de idade) saem das comunidades em busca de melhores condições de vida: se são meninas, tornam-se empregadas domésticas, se meninos, sobram nas ruas. Nas casas onde trabalham, há em média, 2 a 3 empregadas: não há horário fixo e permaneciam sem se alfabetizar; com freqüência não recebem salários. “O maior problema é a solidão em que crescem: não chegam a ser crianças e já são adultas”, diz Vittória com emoção. São desprezadas pelos poderes públicos, nem fazem parte do Censo Demográfico Nacional.
            “Concluímos que só por meio da educação se pode melhorar. Então, abrimos uma escola: 70% são empregadas domésticas e 30% são crianças que viviam nas ruas. Para essas, o trabalho educacional era mais difícil, mas, no ano passado, muitas terminaram o ensino básico.”  O objetivo era não separar um grupo do outro.
            Há quem critique as mães por permitir que as crianças saiam de casa, mas elas não querem explorá-las, “geralmente são enganadas, pensam que as crianças poderão estudar e melhorar a vida”. Questiona-se a saída das crianças de seus lares, buscando o diálogo com os pais e crianças, reivindicando junto às autoridades melhores condições de vida.
            As adolescentes que terminaram a escola secundária permanecem ministrando cursos de promoção social para outras pessoas da comunidade. Para melhor concretizar esse objetivo, utilizamos uma rádio conduzida pelas próprias meninas e adolescentes empregadas domésticas. Assim, elas passam a ser melhor compreendidas.
            A população Quéchua ocupa o grau inferior na sociedade. “É muito importante que essas meninas se reconheçam como grupo, mas elas teem vergonha do que são.” Nosso projeto quer mostrar o quanto elas são importantes mesmo trabalhando como empregadas domésticas. Cada criança tem seu projeto de vida, ainda continuam nesse trabalho mas de modo diferente.  Em Cuzco, já se notam mudanças de comportamento para com elas.
            No Peru, como nos outros países da América, o índio não é considerado totalmente como pessoa, são alvo de racismo. “As senhoras que empregam essas meninas quéchuas não conseguem perceber que elas teem sentimentos como as suas próprias filhas”.
            Para turistas, os Quéchuas são bem vistos porque representam muitas coisas belas para se ver, mas é um reconhecimento folclórico. E há também um folclore para divertir os turistas.
            Vittoria Sávio apresentou-se no Frepop*, no Painel Internacional “as mulheres falam sobre a crise global e seus efeitos” e mostraram não só o que se deve fazer, mas o que já estão fazendo.
            “Yanapanakusun é o nome do nosso programa, é uma palavra indígena que significa ajudemo-nos”, esclareceu Vittoria. São mulheres ajudando as meninas e adolescentes e ajudando-se umas as outras.
            Então, já aprendemos o que é preciso fazer: ajudemo-nos. Yanapanakusun!
 
Iolanda Toshie Ide
 
* O Frepop começou como Fórum Regional de Educação Popular há 6 anos, mas se ampliou e o presente foi o VII regional e o IV Internacional que se realizou em Lins de 22 a 25 de julho último. O painel ocorreu no fim da tarde do dia 23 e contou com Sarah de Roure da Marcha Mundial das Mulheres e as debatedoras Soledad Idalia Condore Calle, índia do Chile; Olga Franco Garcia do Ministério da Educação de Cuba, além de Vittória Sávio.

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