Bélem, centro da cidadania planetária

Quando em 2001 o Fórum Social Mundial se realizou em Porto Alegre pela primeira vez, foi um contraponto, uma crítica ao Fórum Econômico Mundial de Davos. Éramos chamados jurássicos, bandos de malucos retrógrados sem nenhuma proposta.

Nos anos seguintes, a adesão ao FSM foi ascendendo tanto em número de participantes quanto em aprofundamento e ampliação das reflexões. A rica troca de experiências mostrou que não só temos propostas, mas já estamos experienciando um OUTRO MUNDO POSSÍVEL. A multidão de participantes acomodava-se como era possível, a maioria com pouco conforto, mas muita esperança. A cada ano, as marchas de abertura contavam com maior número de participantes, sempre pedindo paz e justiça. Numa delas, 150 mil marcharam na tentativa de impedir o ataque dos Estados Unidos ao Iraque.

Os poucos participantes de Davos eram cercados por fortes aparatos de segurança. Temendo as manifestações, uma das edições do Fórum Econômico Mundial chegou a realizar-se em alto mar. No FSM, pelo contrário, por poucos seguranças observavam de longe uma centena de participantes.
A partir da 4ª edição, o FSM saiu de Porto Alegre para se realizar no exterior: na Índia em 2004 (Mumbai) e na África em 2007 (Nairobi). A partir de 2006, descentralizou-se pelos cinco continentes, por exemplo, o Fórum Social das Américas ocorreu na Venezuela. Em seguida, outra edição (descentralizada) continental em 2008, para nós das Américas, aconteceu na Guatemala. Agora é a edição centralizada em Belém esperando cerca de 80 mil participantes de todo mundo.
Nesse percurso, o ufanismo do Fórum Econômico Mundial evaporou-se com a crise que vinha sendo anunciada desde 2001 na primeira edição do FSM. Os perfumados mandatários e executivos que se reunem em Davos prometeram que o mercado traria o paraíso. Ninguém mais acredita. As contradições inerentes ao sistema, a desenfreada acumulação do capital às custas do empobrecimento da maioria, revelou-se autofágica. O planeta não comporta um mercado tão voraz e concentrador. Ao contrário, um dos objetivos do FSM é a “construção de uma economia democratizada, emancipatória, sustentável e solidária, com comércio ético e justo, centrada em todos os povos”.  
Realizando-se em Belém, esta edição do FSM promete se abrir para as propostas dos povos tradicionais, principalmente das várias etnias que vivem nos nove países da Amazônia: quanto teem a nos ensinar! Os países do norte que abrigam em seus museus, universidades e esconderijos os frutos dos saques, deve-nos uma resposta: o respeito aos povos tradicionais e a devolução do que surrupiaram. Industrializaram-se com as riquezas daqui saqueadas. É hora de começar a devolver, como propôs Guaicaipuro Cuatemoc, em discurso na ONU.
É um privilégio poder enfrentar os desafios da sustentabilidade ambiental no coração da Amazônia. Enseja amplas trocas de experiências de sustentabilidade com os povos tradicionais que harmonizaram desenvolvimento – nem sempre reconhecidos - com preservação do meio ambiente. Neste ano Internacional da Astronomia, convém lembrar as grandes contribuições científicas de Incas, Maias, Astecas,... e superar preconceitos.
Procedentes do mundo inteiro, estaremos lutando “pela construção de um mundo de paz, justiça, ética e respeito pelas espiritualidades diversas, livre de armas, especialmente as nucleares”.  
Davos é o atraso; o FSM é a novidade. Davos é a crise; Belém, agora centro da cidadania planetária, aponta soluções na certeza de que OUTRO MUNDO É POSSÍVEL.

Iolanda Toshie Ide  

Convento Santíssima Trindade

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