O Demônio que virou a tábua da salvação

Reclama-se da ingerência estatal no mercado, dos excessivos gastos públicos, da máquina do estado inchada, ... 

     O deus-mercado regulou só a favor de executivos e presidentes de bancos e empresas garantindo-lhes uma vida nababesca e escondendo os lucros nos vários paraísos fiscais. Tudo tem limite. Embora adiada e maquiada, a crise mostrou o outro lado: o da economia real.

    Até então ...      Ameaça de epidemia de dengue? Não há recursos. As pensões não estão aquém das contribuições dos pensionistas do INSS? Porque a previdência está deficitária. A qualidade da educação pública precisa melhorar? Não há recursos. Faltam leitos nos hospitais públicos? O SUS está deficitário. O salário mínimo é uma vergonha? Não há como aumentá-lo. Faltam hospitais? O caixa já estourou. Escolas precisam de esgoto e luz elétrica? Não há dinheiro. E ... assim por diante.
     Mas, de repente há dinheiro a rodo para salvar os irresponsáveis que ganharam bilhões para levar as finanças para o esgoto. As montadoras aqui instaladas, cujos exorbitantes lucros (às custas dos baixos salários e das “renúncias fiscais”) foram levados para suas filiais e/ou seus paraísos fiscais, pedem socorro ao estado com a desculpa de salvar empregos.
     A superexploração do trabalho tornou possível uma superprodução de mercadorias que o trabalhador superexplorado não tem como comprar. O feitiço virou contra o feiticeiro.
     Agora, os trabalhadores são usados como desculpa para exigir do, até então detestado estado, o socorro para salvar os empregos. Nada mais falso. E há quem acredite que algum empresário está preocupado em garantir emprego ao trabalhador. Muito pelo contrário, exatamente quem sempre lesou os/as trabalhadores/as, o fisco e o meio ambiente, aproveita-se a crise provocada pela ciranda financeira para usufruir dos recursos advindos dos impostos religiosamente pagos pelas/os cidadãs/os comuns. Ninguém duvide que o dinheiro que o estado liberar será reaplicado na ciranda financeira, porque trata-se de um vício do qual não sabem ou não querem se livrar.
     Não faltam propostas de redução de salário, de redução dos impostos, ... Constituem exceção os que pensam em questionar o padrão de consumo, a concentração de bens e rendas, a sustentabilidade ambiental. A estratégia das férias coletivas, das ameaças de demissões,...já as conhecemos. Trata-se de apavorar os/as trabalhadores/as e suas famílias para que se deixem oprimir ainda mais e até aplaudam os governos que destinarem recursos públicos (dos suados impostos pagos pelo povo) para salvar empresários e banqueiros irresponsáveis.
     Mais uma vez, quem leva a pior é quem trabalha. Quem não trabalha teve tempo de especular com os lucros advindos da superexploração de quem trabalha. O estado, ontem demonizado pelo deus-mercado, agora é considerado tábua de salvação, desde que abra seus cofres e não imponha condições. E o trabalhador é chamado a pressionar o estado a socorrer seus patrões. Nada mais paradoxal e recorrente.     Sugiro uma medida democrática e popular: destinar imediatamente mil reais a cada brasileira/o da faixa dos 10% mais pobres. Uma ilusão porque quem pode fazê-lo é refém, ou quer sê-lo, dos que financiaram parte de suas campanhas eleitorais, às vezes com dinheiro surrupiado dos cofres públicos.
Iolanda Toshie Ide

Convento Santíssima Trindade

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