Globalização da insegurança

A morte de Sérgio Vieira de Mello, chefe da delegação da ONU em Bagdá, deixou o mundo estarrecido. O ataque à ONU, com a morte do funcionário brasileiro que presidia os esforços para a reconciliação do país, nos deixa perplexos. Justo a ONU, cujos valorosos inspetores tinham feito de tudo para evitar a guerra, e ainda por cima uma figura do quilate de Sérgio Vieira de Mello, cidadão do Brasil, cujo governo se opôs energicamente às ações militares dos Estados Unidos e da Inglaterra no Iraque.

O episódio deixa a nu, para quem ainda não tinha percebido, a complexidade da situação deixada por uma guerra equivocada, descabida e falsamente justificada, cujas conseqüências estão longe de terem terminado. Mas revela também quanto se alastrou a insegurança neste mundo globalizado em que vivemos.

Com realismo, precisamos constatar que existe uma correlação inexorável entre a injustiça e a insegurança. A equação é mais complexa do que parece à primeira vista. A insegurança aumenta na proporção da concentração da riqueza. Emerge daí a contradição. Quanto maior o aparato para segurança, mais se vive na insegurança. O país que mais se previne contra atentados, mais experimenta cotidianamente o pavor da insegurança.

Os muros altos, os portões eletrônicos, os carros blindados, invertem sua função, e se tornam convite para atentados e assaltos.

Santo Agostinho, na trajetória pessoal que o levou da devassidão à conversão a Deus, fez a famosa constatação, em forma de confissão: “nosso coração é feito para vós, Senhor, e ele não descansa até que vos tenha encontrado”.

Pois bem, está na hora da humanidade fazer outra constatação, e promover outra confissão prática e eficaz. Fomos feitos não só para Deus. Mas igualmente para vivermos na fraternidade, na igualdade de condições, na simplicidade, na frugalidade de recursos e de meios, no respeito mútuo, e na confiança que nos leva a respeitar o outro e a nos sentirmos seguros de sermos respeitados.

A paz só existe se é para todos. É enganosa a opulência de poucos em meio à miséria de muitos. É ilusória uma previdência só para alguns. Os benefícios do desenvolvimento, ou são para todos, ou para ninguém.

Esta constatação, porém, fica superficial e inoperante, se limitada a uma resignação pessimista das possibilidades humanas. Ao contrário. Ela precisa ser fruto de uma concepção humanista que parte da convicção da dignidade fundamental de toda pessoa, com direitos inalienáveis que precisam ser propugnados em favor de todos.

O processo de globalização, ora em curso, necessita com urgência não tanto de recursos técnicos e econômicos. Mas de uma filosofia que recoloque a dignidade da pessoa humana como fundamento de toda a organização social, e a solidariedade como critério básico de toda a atuação política.

Os desequilíbrios que se acentuam, fazem pressentir que estamos nos avizinhando de um perigoso impasse no relacionamento mundial. O século passado foi pródigo de acontecimentos que sacudiram a geografia política dos continentes. Este não vai passar em branco. A estrutura mundial herdada do século passado já está decadente. Urge modificá-la.

Enquanto é tempo, tiremos as lições dos fatos. E procuremos as saídas que condizem com a vocação humana para a justiça, a solidariedade e a paz.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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