Fazendeiros contratam pistoleiros, armam emboscada e executam massacre de família sem-terra no Paran

A imprensa, as autoridades e a empresa Trombini, em nota oficial publicada nos jornais paranaense Gazeta do Povo e Folha de Londrina, imediatamente após o massacre sofrido pelos trabalhadores rurais sem terra no município de Foz do Jordão, na Fazenda de propriedade da empresa acima citada, tentaram explicar e justificar o fato, dando versões que não condizem com a verdade.

A imprensa e as autoridades abordaram o massacre ocorrido como se tratasse de apenas um confronto entre sem-terra e seguranças da fazenda, portanto as mortes seriam uma conseqüência natural, e até de que teria partido do MST o início do conflito.

Estas versões, que fazem parte da estratégia de criminalização do MST e da tentativa de impedir uma verdadeira reforma agrária no Brasil, perduram há anos no senso comum da mídia, influenciando a sociedade.

Com este relato estamos restabelecendo a verdade dos últimos acontecimentos, a fim de que a sociedade seja informada do real contexto em que se desenvolveram os fatos:

1. As 180 famílias de sem terra estavam acampadas na PR 373, desde dezembro de 2002, aguardando de forma pacífica e organizada um pedaço de terra.

2. Em busca de sua própria sobrevivência, as 180 famílias, desde do dia 30 de agosto, todos os dias, de boa-fé, se deslocavam para preparar a terra para realizar uma lavoura comunitária, sendo que ao final do trabalho retornavam ao acampamento na beira da estrada.

3. No dia 02 de setembro as 07:30 da manhã, as famílias estavam se encaminhando para o trabalho pela estrada, como um dia normal.

4. Na porteira da fazenda que fica ao lado da PR 373, as famílias que estavam caminhando na estrada, foram surpreendidas por uma emboscada com mais de 20 pistoleiros fortemente armados com coletes a prova de bala e encapuzados, que estavam entrincheirados, em uma posição que facilitava o ataque, em clara intenção de atirar assim que avistassem os sem-terra. Os pistoleiros iniciaram o ataque, atirando contra todos os trabalhadores rurais, não deixando oportunidade de defesa ou de fuga das famílias. É evidente que a atitude foi premeditada e preparada

5. Como resultado deste massacre foram assassinados Paulo Brasil e Anaro Lino Vial, além de diversas vítimas, com lesões corporais graves.

6. Fica explicito pelo resultado, da impossibilidade de que houvesse qualquer tipo de confronto, ficando apenas certeza que o ataque foi premeditado e executado com os mínimos detalhes.

7. Em nenhum momento houve ocupação da área, como foi amplamente divulgado pelos meios de comunicação, na tentativa de justificar para opinião pública o massacre.

8. Informamos que a fazenda Trombini de 2453 ha, foi vistoriada pelo INCRA em 2002, e classificada como imóvel improdutivo, por não cumprir a sua função social. Somente por esse motivo as famílias aguardam no acampamento na PR o assentamento definitivo.

9. De acordo com as apurações até o presente momento, ficou provado, que se tratou de uma emboscada, como afirmou o Ouvidor e Corregedor do Estado, Luiz Carlos Delazzari após ter realizado a perícia no local. Foram presos sete pistoleiros contratados empresa Trombini. Entre os pistoleiros se encontram funcionários que prestam serviço a COPEL.

10. Diante desta brutal violência contra famílias de trabalhadores sem terra, exigimos:

· Apuração dos assassinatos, com a responsabilização dos mandantes e executores do massacre;

· Proibição de empresas de seguranças agenciarem pistoleiros para fazer defesa armada de latifúndios.

· Apuração de indícios que indicam a participação de policiais militares na articulação com as milícias privadas

· Imediata desapropriação da fazenda Trombini para o assentamento das famílias acampadas.

11. Este episódio de violência nos leva a um passado histórico recente, a ERA LERNER, onde havia uma ação articulada que envolvia fazendeiros, milícias armadas encapuzadas, Poder Judiciário, mídia tendenciosa, políticos conservadores e o aparelho repressivo estatal, que arquitetavam uma grande ofensiva com objetivo de derrotar e criminalizar o MST. Neste período despejos de madrugada, escutas telefônicas ilegais, restrição a liberdade de ir e vir, torturas, execuções e assassinatos tornaram-se comuns e configuraram-se grande desrespeito à democracia.

12. O recente acontecimento não pode ser tratado como um fato isolado, uma vez que foi alertado por mais de uma vez ainda este ano, às autoridade federais e estaduais, a existência de milícias armadas encapuzadas, entituladas como "empresas de segurança privadas" que agenciam pistoleiros e que se utilizam de armas contrabandeadas nas suas ações, para fazer a segurança ilegal dos latifúndios.

13. A lentidão do Governo Federal na ação de coibir e desmantelar as milícias armadas tantas vezes denunciadas e a ausência de um processo massivo, rápido, de reforma agrária que elimine a violência, o analfabetismo e a fome, são as causas geradoras dos conflitos, que bloqueiam a construção de sociedade verdadeiramente democrática.

Diante destes fatos, através da Terra de Direitos, estamos encaminhando denúncia para os órgãos públicos nacionais (Ouvidoria Agrária Nacional, Ministério da Justiça e Secretaria especial de Direitos Jumanos) e estaduais competentes (Procuradoria Geral do Ministério Público, Polícia Federal) e também encaminhamos denúncia formal para a Relatora Especial sobre Execussões Arbitrárias, Sumárias ou Extrajudiciais, Srª Asma Jahangir que está ligada à Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas.

Reforma Agrária Por Um Brasil Sem Latifúndio
Coordenação do Movimento Sem Terra do Paraná
Terra de Direitos

setembro/2003

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