Grito dos Excluídos

No Dia da Pátria, Sete de Setembro, realiza-se neste ano, pela nona vez consecutiva, o Grito dos Excluídos. Seu lema é incisivo e contundente: “Tiram as mãos... O Brasil é nosso chão!”.

Como em todos os anos, o Grito alerta para causas com evidente incidência nos destinos da Pátria. Está clara a advertência sobre a importância de salvaguardar nossa soberania. Os destinos do país não podem ser entregues a mãos estranhas, guiadas por ambições de exploração e de submissão do Brasil a interesses hegemônicos de impérios que pretendem se impor pela ameaça da força e pelos ardis do mercantilismo.

Por isto, em coerência com a causa, o Grito promove uma campanha contra a implantação da Alca. Dado que a proposta pode ser tentadora, com promessas ilusórias de chegarmos com rapidez aos delírios do primeiro mundo rico e esbanjador, a campanha convida para a necessária precaução: “Em defesa da nossa soberania, vacine-se contra a Alca!”.

A melhor vacina contra a alienação é a consciência crítica da cidadania. Por isto, a campanha abre o espaço para a participação popular, e promove um abaixo-assinado, para solicitar a convocação de um plebiscito oficial sobre a Alca.

No projeto da Alca estão envolvidos todos os países da América Latina. O Grito dos Excluídos, nascido no Brasil, já inspirou a mesma postura de alerta e de vigilância nos países irmãos da América Latina. A afirmação da própria nacionalidade não significa ignorar a existência de pátrias irmãs, com quem somos chamados a realizar a “Pátria Grande”, no respeito pela identidade de cada nação e na solidariedade em busca das soluções que vão entrelaçando cada vez mais nossos destinos. É diferente a postura hegemônica de quem quer dominar, da postura solidária de quem quer promover o respeito e o relacionamento fraterno entre os povos. Por isto, o Grito já tem sua expressão continental, que neste ano clama “Por Trabalho, Justiça e Vida”.

Poucas iniciativas tiveram uma receptividade tão grande como o Grito dos Excluídos. A esta altura de sua história, é conveniente conferir as razões de sua rápida afirmação, que o tornaram um fato de referência nacional e de significação mundial.

Ainda lembro o contexto em que pela primeira vez surgiu a idéia. Estávamos numa reunião da coordenação nacional da Cáritas Brasileira. Era o início de 1995, ano da Campanha da Fraternidade sobre Os Excluídos. Na tempestade de idéias para levar adiante o tema do ano e inseri-lo nas atividades do Setor Pastoral Social, alguém propôs realizar o “Grito dos Excluídos”, à semelhança do “Grito da Amazônia”, e do “Grito da Terra”. Não demorou para todos dar-nos conta da potencialidade da sugestão, se encontrássemos maneiras de mobilizar os excluídos, e dar-lhes oportunidade para que de fato gritassem para o Brasil o que estavam sentindo e vivendo.

Pois bem, a partir daí, aceita a idéia, tratou-se de encontrar as estratégias de implementá-la. A primeira delas foi amparar a nova iniciativa no processo já em andamento. Para isto, nada melhor do que acoplar o Grito dos Excluídos com a Romaria dos Trabalhadores a Aparecida. E incluí-lo na dinâmica de reflexão e mobilização da Semana Social Brasileira. Como data simbólica, emergiu com evidência o Sete de Setembro, dia da Pátria, dia de afirmar a inclusão como direito de todos os cidadãos.

Estavam colocados os ingredientes para se levar adiante a iniciativa, inserindo-a no processo de resgate da cidadania, buscado pela ação das Pastorais e Movimentos Sociais.

Realizada com sucesso a primeira edição do Grito, em 1995, a iniciativa contou com a pronta articulação do Setor Pastoral Social da CNBB, que no ano seguinte conseguiu inserir o Grito dos Excluídos nas atividades de preparação do Jubileu do ano 2000. Assim, o Grito era assumido oficialmente pela CNBB, e passava a contar com a pronta e eficaz adesão dos Movimentos Sociais, que se identificaram com os seus objetivos e com a sua organização.

Mas o sucesso do Grito não se baseia tanto na estratégia de sua promoção. Ele continua tendo repercussão pelo acerto da causa que aponta. Coloca o dedo na moleira. Toca a ferida central do sistema neo-liberal, causador de concentração e produtor de exclusão. Esta causa merece ser identificada com mais clareza, para desnudar suas entranhas. Por hoje, vamos escutar o Grito dos Excluídos. Ele impõe respeito e pede consideração, simplesmente por vir de onde vem.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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