Água: Outras Mudanças

Já deu para sentir quanto a Campanha da Fraternidade deste ano, sobre a água, pode levar a mudanças efetivas, que acabam mexendo com velhos hábitos, e despertam para a proteção das vertentes, a preservação da mata ciliar que beira os córregos e rios, o manejo adequado das micro bacias, o uso do plantio direto, e o cuidado para manter a porosidade do solo para que possa absorver melhor a água das chuvas.
Tudo isto no terreno da agricultura.
Mas no embalo da campanha sobre a água, dá para descortinar um vasto panorama de outras mudanças, relacionadas com hábitos urbanos, e que podem trazer conseqüências muito significativas.
Uma primeira constatação salta aos olhos: o uso irracional da água tratada, que sai das torneiras. Seu custo, em boa parte, é devido ao seu tratamento. Pois bem, usa-se esta água de maneira indiscriminada. Ela é preparada para o uso humano, como convém. Mas é usada igualmente para limpar calçadas e lavar carros. Sobretudo, é gasta em serviços sanitários, onde se poderia usar outra água.
Em visita a um agente da Cáritas da Alemanha, o assunto das cisternas do nordeste brasileiro se tornou bem mais fácil de abordar com o exemplo concreto que ele tinha em sua própria casa. Ele também tinha construído uma cisterna para captar água da chuva. Sua casa possibilitava dois sistemas de condução de água. A água da chuva era para os serviços sanitários. Assim ele poupava um bom dinheiro, evitando gastos com a água tratada.
Mas a lição dos nordestinos, que nos ensinam a reter a água da chuva em cisternas, não pára por aí. O tormento constante das enchentes na grande São Paulo, para citar o caso mais evidente que temos no Brasil, só será contornado com ampla campanha de construção de cisternas. Aliás, já existe lei municipal neste sentido, que precisa ser urgida e ampliada.
A retenção da água das chuvas nas cidades vem ao encontro de um duplo objetivo. Em primeiro lugar, porque é preciso compensar a vedação do solo pelo asfalto, que o impede de absorver a água da chuva. Pois a causa das enchentes está aí. Em segundo lugar, com a crescente escassez de água, as cisternas são uma solução inteligente e econômica.
Mas tudo isto exige um amplo processo de mudanças. Está em jogo a mentalidade dos urbanistas, que precisam colocar esta questão em termos práticos e políticos, envolvendo os planos diretores das cidades.
Entram em cena os engenheiros e arquitetos, que precisam se alertar para colocarem estas providências em seus projetos de construção de casas.
O alerta precisa chegar aos construtores e pedreiros, que garantirem na prática um sistema adequado para o uso mais racional da água necessária para uma residência.
Sobretudo, está em questão uma política condizente com a importância da água, em toda a sua amplitude.
Todo este leque de aspectos precisa do respaldo da cidadania. É por isto que a campanha da fraternidade deste ano precisa ir avolumando convicções, até transbordar para conseqüências práticas, à semelhança da chuva insistente e copiosa, que acaba renovando as vertentes, enchendo os rios, e transbordando para fecundar as várzeas e revitalizar a natureza.
A água é fonte de vida. Ela é ao mesmo tempo advertência para os desmandos da urbanização irracional, e solução para os problemas de nossas cidades. Contanto que entendamos o seu recado, e saibamos usar bem os seus recursos.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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