Deslizar pelo corrimão, nunca mais

Todos os dias as crianças iam brincar nas escadarias do Centro de Promoção Industrial. Subiam as escadas em caracol e deslizavam pelo corrimão. Eram 7 horas e o alarme soara, mas naquela manhã foi diferente. O ronco de um avião assustou com seu vôo rasante. O relógio marcava 8 horas e quinze minutos. Uma bola de fogo de 310 metros de diâmetro e 6.000 ºC provocou a destruição num raio de mais de 4 quilômetros.

O “Duomo de Hiroshima” como passou a ser conhecido o Centro de Promoção Industrial, teve sua cúpula revestida de cobre derretida. Tudo veio a baixo, mas a estrutura de ferro resistiu.

A bomba de 3 metros de comprimento e 4 toneladas ceifou mais de 200 mil vidas com a liberação de neutrons e raios gama pelo Urânio 235. A rede de televisão japonesa NHK apresentou parte dos dados científicos sobre o que ocorreu nos primeiros 10 segundos, como também relatos de sobreviventes.

A menina Tomoko Matsumoto estava na escola, perto do bebedouro; repentinamente seus cabelos se incendiaram, ela mergulhou a cabeça na água quando o prédio ruiu e ficou presa nos escombros: 12 das 50 colegas morreram na hora.

Kinue Oto, escriturária num Banco a 1,7 km do ponto de impacto, viu um forte clarão, um estrondo e os cacos de vidro girando em redemoinho: 84 colegas mortos/as.

Ieassu Kawamura tinha 8 anos de idade e estava a 2 km: sentiu um entorpecimento, seu corpo foi levantado e atirado longe.

No observatório meteorológico, numa colina a 4 km, o senhor Kita viu um clarão seguido de ondas de choque. Os vidros foram estilhaçados e penetraram nas paredes. A bola de fogo escureceu e se transformou numa nuvem em forma de cogumelo. Tempestades de fogo irromperam num raio de 2 km. 20 minutos depois caiu uma chuva negra.

A tia percebeu que uma palidez e debilidade tomava conta da jovem sobrinha. Os cabelos rareavam, mas ela escondia. A tia percebeu quando ao lavar a cabeça, parte do couro cabeludo se desprendeu. A jovem tinha estado em Hiroshima para compras e fora pega pela chuva negra. O fim chegou rápido.

93 mil sobreviventes vivem em Hiroshima. Estão catalogados relatos de 89 mil. Pode parecer morbidez recordar acontecimentos ocorridos há 59 anos. Lembro-me de ter participado de manifestações contra os testes nucleares no atol de Mururoa, lideradas por mulheres japonesas, na China durante a IV Conferência Mundial da Mulher em 1995. Em 1998, Índia e Paquistão engrossaram a onda de semelhantes testes. Desde as bombas de Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos já fizeram 315 outros testes nucleares. Lembrar é resistir.

Iolanda Toshie Ide
Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Lins;
Representante da Pastoral da Mulher Marginalizada no setor de Pastorais Sociais da CNBB;
Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Ação " Educação e questões de Gênero", da UNESP de Marília / SP

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