Yasser Arafat

Pela maneira como aconteceu, a morte de Yasser Arafat se tornou uma notícia agendada. Tanto mais ela nos convida a pensar.

Qualquer morte impõe silêncio e respeito. Seja quem for, o que tenha sido, o que tenha feito. Na morte de qualquer ser humano se faz presente o mistério da própria humanidade. É este o pressentimento da Bíblia, ao vincular a morte ao drama de “Adão e Eva”. Será sempre superficial a compreensão da vida humana se não incluir a morte. Um dos indícios da autenticidade da mensagem cristã é, certamente, o fato do próprio Cristo ter passado pela morte. Se assim não fosse, não seria um salvador para a humanidade.

Na morte, e na vida, de Arafat podemos reconhecer muitos aspectos do drama que a humanidade continua vivendo. Neste sentido, sua morte passa a fazer parte dos eventos que pontilham a história do nosso tempo.

Arafat se identificou profundamente com a história do povo palestino. Um povo que está vivendo um drama muito pesado, no qual estamos todos implicados, de diversas maneiras.

Pois o povo palestino ainda está pagando o preço do acerto de contas resultante da segunda guerra mundial. Uma conta que deveria ser de toda a humanidade, acaba sendo paga mais pesadamente por alguns. É o caso evidente do povo palestino. Por isto, bem que ele mereceria mais compreensão e mais empenho por parte de todas as nações.

Na verdade, em conseqüência das inomináveis atrocidades praticadas contra o povo judeu pelo regime de Hitler, terminada a guerra, em 1948 a ONU decidiu criar o Estado de Israel, com território desmembrado da antiga Palestina.

Sem entrar nos detalhes das motivações e razões para tal decisão, o fato evidente é que a partir dela se criou uma situação de impasse, cuja solução ainda não foi encontrada.

De um lado, milhares de palestinos foram forçados a deixar suas terras, que ocupavam há séculos. E precisaram se transferir para acampamentos provisórios, que duram até hoje.

De outro lado, os que puderam ficar no território em que viviam, se viram impossibilitados de constituir um estado soberano, cerceados em sua autonomia, e obrigados a uma minoridade política que ofende sua dignidade e sua tradição de membros de uma civilização com raízes milenares.

Há situações que são produzidas pelo conjunto da humanidade, e depois deixadas às custas de alguns povos, que lhes pagam as conseqüências. Exemplo típico é o confronto entre judeus e palestinos. Não podemos olhar para eles, como se fossem os únicos responsáveis pela situação que vivem. Estamos todos implicados no drama dos seus confrontos.

A falta de solidariedade, e o desconhecimento dos problemas, estimula o apelo a ações extremadas, que assumem feições de terrorismo. É um caminho equivocado, sem dúvida. Mas seria muita hipocrisia a condenação sumária das pessoas que se vêem envolvidas nestas tragédias.

É urgente uma postura de compreensão e de diálogo. Perpassa um calafrio na espinha quando se constata a perigosa tendência a radicalismos e a fundamentalismos, que vão tomando diversas expressões nos últimos acontecimentos mundiais.

A morte reforça a necessária identificação, que a todos atinge. Bom seria que a morte de Arafat nos ajudasse a identificar-nos melhor com as justas demandas, tanto do povo palestino como do povo judeu. Para assim fortalecer as esperanças de entendimento e de paz.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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