Quem Ama, Protege

Não havia explicação para o desaparecimento. O menino era tranqüilo, ia bem nos estudos, não era mal tratado pelos pais. Por que haveria de fugir de casa?
As cogitações eram várias: acidente, perda de memória, seqüestro, ... Nenhum hospital da cidade havia atendido criança acidentada nem desmemoriada, ninguém telefonara falando de resgate.
Na última reunião a professora dissera que ultimamente ficava desatencioso nas aulas. Sempre saía de casa dizendo que havia treino esportivo. (Na reunião a diretora informou que a escola não programara nenhum treino.) Em casa, também mudara de comportamento, alimentava-se mal, às vezes gritava durante o sono. Mas nada que pudesse explicar uma fuga de casa.
O colega mais próximo começou a entrar em pânico. Fora o último a vê-lo. Também ele mudara de comportamento. Chorava sem motivo aparente, não conseguia dormir, aterrorizava-se quando o assunto era abordado. A mãe percebeu e serenamente buscava dialogar. Por fim a revelação. O suposto professor de Educação Física convidara a ambos para jogar em outra cidade. O menino dissera que não tinha autorização dos pais, mas o professor prometera trazê-los de volta antes do fim da tarde. O outro foi.
O corpo foi encontrado semanas depois, a mais de 200km, com sinais de violência sexual. O colega acabou revelando que o professor, entre outras coisas, forçara-o ao sexo oral e ameaçara de morte se revelasse.
A escolha dos familiares foi a proibição de se tocar no assunto. Um dos familiares insistiu sobre a ida ao médico. Os pais recusaram, inclusive proibindo o filho de revelar o acontecimento. Optaram por mudar de município. Mas o menino cada vez mais triste foi adoecendo, até que, já quase adolescente, uma pneumonia recorrente obrigou-o à hospitalização. Os exames laboratoriais revelaram hepatite e HIV soropositivo.
Há mais de vinte anos, no dia 18 de maio, a menina Aracelli dos Santos foi abusada sexualmente e depois assassinada. A data foi dedicada nacionalmente ao combate ao abuso sexual infanto-juvenil.
A melhor forma de combate é a prevenção. É preciso que mães/pais e educadores/as, conselhos de direitos, movimentos sociais saibam detectar os sinais de assédio e ajam com prontidão. Os meios de comunicação social também podem e devem alertar. É preciso denunciar imediatamente, mesmo que anonimamente, para que não continue impunemente violentando outras crianças. O abusador é quase sempre pessoa conhecida, às vezes, acima de qualquer suspeita. Costumo deixar no ar um pergunta: se a vítima fosse seu filho ou sua filha?
Devolver à criança o direito à palavra para que ela revele o que lhe desagrada e seja fortalecida no direito a dizer não, é uma das formas de incentivá-la ao exercício da cidadania e à defesa de sua integridade.
Quem ama, protege.

Iolanda Toshie Ide
Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Lins;
Representante da Pastoral da Mulher Marginalizada no setor de Pastorais Sociais da CNBB;
Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Ação " Educação e questões de Gênero", da UNESP de Marília / SP

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