Dersù Uzala

O primeiro filme de Akira Kurozawa, após uma tentativa de suicídio, tem o título acima. Baseado no diário de um capitão russo, como um poema ecológico, apresenta episódios envolvendo Dersù, um caçador nativo das estepes russas de quem se torna amigo.
Como Dersù, hoje convém perguntar por que pagamos pela água, bem da natureza que deveria bastar para todas as pessoas, animais e vegetais. Pior, há quem desperdiça arriscando que falte a alguém, e ainda tenta torná-la monopólio próprio.
Estamos falando da ameaça de privatização da água. Completamente absurda, essa tentativa não é recente: a Nestlé explorando as fontes de água de São Lourenço prejudicando seriamente a população local, as forças armadas dos Estados Unidos tentando instalar uma base militar onde se situa o Aqüífero Guarani, a maior reserva hídrica do mundo.
A população indígena da Bolívia inundou as ruas da capital para protestar contra a negociação governamental clandestina para privatizar a água. Nesse início de junho, o povo peruano está se manifestando fortemente contra a tentativa de aprovar uma lei de privatização.
Nessa Semana do Meio Ambiente, nada mais oportuno que lembrar Dersù Uzala. Não sabia ler nos livros. Ninguém melhor que ele para ler as marcas das patas dos animais na floresta, a aproximação dos ventos, o anúncio da chuva, a força da correnteza. O capitão, autor do diário, várias vezes salvo da morte por Dersù, aprende que o desconhecimento sobre as forças da natureza pode por em risco a sobrevivência.
Sem cair num saudosismo ingênuo, é preciso alertar sobre o caminho pelo qual a humanidade está se enveredando. Nossa sociedade perdulária está produzindo montanhas de lixo que ameaçam a vida de povos indígenas contaminado as fontes de água como, por exemplo em Araucanía onde habitam há séculos indígenas Mapuches do Chile.
As fumigações promovidas pelos Estados Unidos, com a desculpa do combate à droga, tem envenenado os rios da Amazônia, inviabilizando a sobrevivência de vários povos indígenas.
O uso indiscriminado de agrotóxicos e adubos químicos tem dizimado a fauna de muitos rios, deixando a população sem água potável.
Movimentos populares estão se mobilizando para realizar o plebiscito sobre a transposição do Rio São Francisco. A população ribeirinha já tem sido seriamente prejudicada pela irrigação insustentável. Agora, a ameaça da transposição sem estudos de impacto ambiental e social, é outra ameaça que aponta para a irresponsabilidade dos poderes públicos, atentando contra a vida do Velho Chico, da população ribeirinha, de sua fauna e flora.
Estamos diante da truculência predatória que poderá provocar irreversíveis desastres ecológicos e sociais. Causa indignação a fleuma com que os responsáveis (melhor dizendo, irresponsáveis) pela proteção do patrimônio natural, tem encarado o corte de 1740 árvores por minuto na Amazônia.
As novas gerações, com certeza, hão de nos condenar pela indiferença com que assistimos o galopante assalto à biodiversidade. As dívidas ecológicas se avolumam e ameaçam nossa sobrevivência. Urge reagir.

Iolanda Toshie Ide
Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Lins;
Representante da Pastoral da Mulher Marginalizada no setor de Pastorais Sociais da CNBB;
Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Ação " Educação e questões de Gênero", da UNESP de Marília / SP

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