Lembrando o Concílio

Transcorre nesta semana a data do encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano Segundo. Sua última sessão de trabalho foi no dia sete de dezembro de 1965, e seu encerramento festivo ocorreu no dia oito. Fazendo as contas, passaram-se quarenta anos. É esta data que a Igreja fez questão de celebrar com intensidade.

Data por data, haveria diversas que mereceriam ser lembradas. A primeira seria vinte e cinco de janeiro, lembrando o surpreendente anúncio de um novo concílio ecumênico, feito em 25 de janeiro de 1959 por João 23, poucos meses depois de ter sido eleito papa com a idade de setenta e sete anos. Aí, já teriam passado 47 anos.

Outra data seria 11 de outubro, lembrando a festiva sessão inaugural do Concílio em 1962, cercada de otimismo e de grandes esperanças que a figura simpática de João 23 tinha agregado a todo o processo de preparação do "concílio do século vinte". Assim, já seriam quarenta e três anos.

Pessoalmente, é esta data de 11 de outubro que me permite recordar a experiência toda singular que tive deste grande evento. Em 1962 estava em Roma, estudando teologia na Universidade Gregoriana. A ninguém escapava o alcance histórico do acontecimento que presenciávamos de perto. No dia de sua abertura oficial, 11 de outubro, fui cedo à Praça S. Pedro, para testemunhar a entrada dos bispos e do papa na basílica. Mas, por sorte, não só vi a solene entrada dos bispos, mas pude também entrar. Graças a Frei Boaventura Klopenburg, encarregado dos jornalistas de língua portuguesa, como não tivesse aparecido nenhum, deu-me um bilhete de acesso à sessão inaugural do concílio. De tal modo que me permitiram entrar, e pude me localizar bem próximo ao papa, mais que todos os bispos. Assim, pude escutar de perto, de viva voz, o famoso discurso de João 23, assegurando que o concílio seria de fato para atualizar a Igreja, para que sua mensagem pudesse ser entendida pelo mundo de hoje, com quem a Igreja queria se reconciliar.

Mas, estamos na verdade celebrando a conclusão do concílio, não seu início. E por ocasião do número simbólico dos quarenta anos. A circunstância não deixa de sugerir a pergunta sobre o que é feito deste acontecimento, passados quarenta anos.

Avançando a interrogação, a pergunta pode também levantar a questão da possibilidade, ou mesmo da conveniência, da Igreja realizar um novo concílio ecumênico, ainda mais tendo presente as grandes transformações ocorridas no mundo depois do Vaticano Segundo.

Estamos agora num novo século, no início inclusive de um novo milênio. Foi, sem dúvida, o Vaticano Segundo que possibilitou à Igreja Católica chegar atualizada para a passagem do milênio. Por outro lado, são tantos os desafios que se descortinam pela frente, e que não eram percebidos quarenta anos atrás, que não é fora de propósito avançar a proposta de um novo concílio, a ser convenientemente preparado, para construir grandes consensos em torno de questões que precisariam ser, sobretudo, auscultadas a partir dos anseios populares.

Neste sentido, ficou famosa a intervenção do Cardeal Martini, agora arcebispo emérito de Milão, por ocasião do último Sínodo especial para a Europa, propondo três temas centrais para um eventual novo concílio ecumênico. O primeiro tema seria interno à Igreja Católica, o segundo diria respeito ao relacionamento com as outras Igrejas cristãs, e o terceiro seria em relação ao mundo de hoje.

Em outras palavras, o primeiro tema seria para uma ampla revisão da maneira como na Igreja Católica se exerce o "ministério", isto é a "autoridade", o "serviço", desde o ministério do papa, dos bispos, padres, e leigos. O segundo tema seria para buscar um novo entendimento entre os cristãos, de maneira a finalmente superarem suas divisões. E o terceiro seria em torno da "inculturação" do Evangelho, de tal modo que a mensagem de Cristo pudesse ser acolhida também pelas culturas milenares do oriente, coisa que não aconteceu até hoje, em boa parte pela excessiva "ocidentalização" da fé cristã.

Pelo visto, não faltariam assuntos pertinentes para um novo concílio, contanto que fosse realizado com a abertura de espírito de um João 23. Será que ela existiria no contexto eclesial de hoje? Ou é preferível ainda ficar com o Vaticano II?

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

Convento Santíssima Trindade

REDES

EVANGELHO

CONHEÇA O VIVAT

ACESSE SEU WEBMAIL

Newsletter

SSpS - Missionárias Servas do Espírito Santo - Província Stella Matutina - Todos os direitos reservados
Rua São Benedito, 2146 - Santo Amaro - São Paulo - SP | Tel. (11) 5547-7222