Natal globalizado

Em cada ano, a celebração do Natal reapresenta o sentido profundo, e permanente, do mistério de Jesus.
Nasceu numa gruta, porque não havia lugar para ele na cidade de Belém.
Se Maria e José tivessem que procurar hoje um lugar para o menino nascer, não seria difícil encontrar. Por toda parte existem grutas vazias, esperando uma presença que ilumine suas entranhas.
A gruta significou a exclusão da ordem estabelecida, mas significou ao mesmo tempo o início de uma nova ordem, anunciada com júbilo aos pastores das periferias, e destinada ao mundo inteiro.
O Natal avizinha sempre a exclusão com a inclusão. Para simbolizar ao mesmo tempo os equívocos da humanidade, e a grande oportunidade de reencontrar os caminhos da vida, que Jesus veio colocar na dinâmica da própria história.
Neste ano, talvez o Cristo iria nascer em Hong Kong. Foi lá que nestes dias as nações se reuniram para discutir o comércio mundial. O espetáculo foi deprimente. Todos aferrados aos próprios interesses, lutando para garantir a fatia maior de lucro. Assim, o prejuízo continua sendo pago por multidões que ficam cada vez mais excluídas.
Jesus tem outra proposta. Ele veio praticar outro comércio. Na confusão geral de Hong Kong, com as hospedarias tomadas por negociadores; não sobrou lugar para o bom senso. O Evangelho tem outra lógica, tem outro espírito.
Já se tornou comum a queixa de que até o Natal virou comércio, e a festa dos cristãos se reduziu a uma promoção intensa de vendas .
Talvez precisemos rever nossos julgamentos. O fato é que o Natal foi globalizado via comércio. Milhões de chineses, nestes dias, trabalharam em dobro, produzindo brinquedos de Natal, para serem exportados ao mundo inteiro. Nem sabem quem é o Cristo. Mas recebem seu salário por causa de Cristo. Trabalham adoidados para atender à demanda suscitada pela celebração do seu nascimento.
Será que não seria possível perceber aí a proximidade dos caminhos de salvação, que Deus colocou na encruzilhada da história? Partindo da profunda reflexão do Evangelho de João, constatando que "de tal modo Deus amou o mundo, que enviou o seu Filho Unigênito, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele" (Jo 3,16), por que também não concluir que Deus não condena o comércio? Ele só quer que o comércio seja colocado a serviço da vida de todos. O Natal nos aponta o desafio de evangelizar o comércio, não de condená-lo!
A Igreja aprendeu a falar da "economia de salvação" e entendeu o mistério da encarnação como um sagrado comércio, praticado por Deus: ele assumiu nossa natureza humana, para nos tornar participantes de sua natureza divina. Na liturgia, a Igreja tem consciência de estar realizando uma troca de dons, em que oferecemos a Deus nossa vida, para receber dele a vida eterna. O comércio aponta para o mistério de comunhão, constitutivo do próprio Deus.
Os magos vieram de longe, trazendo seus dons a Cristo. Deram-lhe de presente ouro, incenso e mirra. Voltaram felizes, enriquecidos com a graça de terem encontrado o Salvador.
Quando será que as nações vão entender este novo comércio, baseado na gratuidade e no desprendimento? Colocar os próprios bens a serviço das necessidades dos outros, e receber deles o que falta para suas vidas!
Não amaldiçoemos o comércio do Natal. Façamos dele a encruzilhada para que o mundo entenda a mensagem de Cristo, que permanece verdadeira, para todos os tempos e para todos os povos.

D. Demétrio Valentini - Bispo da Diocese de Jales

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