TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA (18.04.10)

 Jo 21, 1-19

 “É o Senhor!”
 
Quase todas as traduções da Bíblia entitulam o capítulo 21 de João como “Apêndice” ou “Epílogo”. Realmente, em uma primeira edição, o evangelho terminava no capítulo 20. Mas, devido a uma situação nova nas comunidades, se tornou necessária a adição do último capítulo. Essa situação era a fusão de dois tipos de comunidades cristãs – as da tradição sinótica ou apostólica, e as da tradição da comunidade do Discípulo Amado. Essa fusão aconteceu pelo fim do primeiro século e é simbolizado nos versículos 15-18, onde Pedro recebe a primazia e a missão de pastor dos discípulos – mas somente depois de ter afirmado três vezes que amava Jesus (lembrando que ele tinha negado o Senhor três vezes na paixão). A comunidade do Discípulo Amado aceita a função apostólica de Pedro, mas insiste que antes de ser apóstolo é mais fundamental ser discípulo – ou seja, amar Jesus.
 
A primeira parte do texto (vv. 1-14) tem grandes semelhanças com a história da “pesca milagrosa" de Lucas (Lc 5,1-11), mas o contexto pós-ressurrecional é diferente.   Como sempre no Quarto Evangelho, devemos prestar atenção aos símbolos – sejam eles pessoas, eventos, ou números. Chama a atenção que – embora seja a terceira aparição de Jesus – os discípulos não o reconhecem. Isso demonstra que a presença de Jesus depois da Ressurreição, embora real, não é igual a sua presença durante a sua vida terrestre. Quem o reconhece primeiro é o Discípulo Amado – pois só quem vê com olhos de amor reconhece e vê além das aparências. Como foi o amor que o levou a correr mais depressa ao túmulo do que Pedro em Cap. 20, é o amor que faz com que ele seja o primeiro a reconhecer a presença de Jesus ressuscitado. Ele é o Discípulo Amado e que ama – Pedro o será somente depois da sua profissão de amor (vv. 15-17).
 
A pesca simboliza a missão dos discípulos. Segundo muitos estudiosos, o número de 153 peixes se baseia no fato de que os zoólogos gregos da antigüidade achavam que existiam no mundo 153 espécies de peixe. Então o Evangelho está dizendo que a Igreja (simbolizada pela rede) pode abraçar o universo inteiro – todos os povos e culturas. É interessante que – diferente da história em Lucas – a rede não se rompe!! A diversidade de culturas, tradições e povos constitui uma riqueza para a Igreja e não deve levar a rompimento da unidade, sem que se imponha a uniformidade (a palavra grega que João usa para “romper” é “schisma”). Certamente essa visão deve desafiar e questionar tantas tendências de centralização e rigidez que existem na Igreja hoje.
 
O nó da questão está na entrega da missão a Pedro. Ele deve ser o Bom Pastor das ovelhas e dos cordeiros – dos membros das comunidades. Mas as ovelhas não são dele – ele é apenas o Pastor – as ovelhas pertencem ao Senhor! Aqui Pedro recebe esta grande missão, que nos sinóticos ele recebe na estrada de Cesaréia de Felipe. Mas mais importante do que a sua função é a sua vocação de discípulo - aquele que ama e segue o Senhor. Só quem ama Jesus profundamente poderá pastorear os seus seguidores. Se no primeiro capítulo do Evangelho Pedro veio a Jesus por mediação do seu irmão André (Jo 1,40-42), agora recebe o convite do próprio Mestre: “Siga-me", pois no amor ele fez a opção pelo discipulado.
 
Todos nós recebemos o mesmo convite – “siga-me”. Seja qual for a nossa função e missão na Igreja, só terá sentido na medida em que realmente amamos Jesus – um amor que só é autêntico se amamos os outros, na luta comum em favor da construção de um mundo onde todos/as possam “ter vida e vida em abundância”(cf. Jo 10,10) pois “se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros”(I Jo 4,11).

 

Tomaz Hughes SVD

 

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