TERCEIRO DOMINGO DE QUARESMA

João 2, 13-25

 

“Mas Ele falava do templo do seu corpo”

 

Na cena do texto, Jesus vai a Jerusalém para a primeira das três Páscoas mencionadas em João (nos Sinóticos a vida pública de Jesus só durou um ano e eles só mencionam uma Páscoa).  No Templo, que deveria ser o lugar do culto ao Deus verdadeiro da Bíblia, o Deus de libertação, o Deus dos pobres e sofridos, ele encontra um verdadeiro mercado, onde, no pátio externo, era possível comprar os animais para os sacrifícios, e trocar a moeda, uma vez que a moeda corrente do país não era aceita no Templo.  Quando atacava esse comércio, Jesus estava indo além da mera condenação dum abuso.  Pois os animais e o câmbio eram necessários para o funcionamento do Templo.  Como Jesus substituiu a purificação dos judeus no sinal das bodas de Caná, aqui ele demonstra que o centro do culto judaico perdeu o seu sentido.  Pois a presença de Deus, antes achada no Templo, agora deturpado pela elite religiosa e política, doravante reside em Jesus, o Filho de Deus encarnado.  Ele cumpre as profecias de Jeremias e Zacarias que predisseram uma religião sem templo nacionalista, explorador econômico do povo (cf. Jr 7, 11-14; Zc 14, 20-21)

 

João entende que o templo é o corpo de Jesus, que será ressuscitado em três dias – ele usa de propósito o verbo “reerguer” em lugar do “reconstruir” dos Sinóticos (cf. Mt 26,61). As autoridades judaicas destruíram o sentido do Templo, abusando do povo economicamente, como vão destruir o corpo de Jesus, matando-o; mas Jesus tem o poder de reerguer o verdadeiro Templo onde habita Deus, na ressurreição, depois de três dias.

 

Mais uma vez Jesus, através duma ação profética, desmascara a deturpação da religião por parte das autoridades de Jerusalém.  Embora o templo fosse muito bonito e imponente, com liturgias pomposas bem freqüentadas, a sua religião era vazia, pois escondia o rosto verdadeiro de Deus.  As Igrejas correm este mesmo risco nos dias de hoje. Além da descarada exploração financeira dos seus fiéis por parte de algumas seitas (cuidemos para não generalizarmos aqui e evitemos que a mesma coisa aconteça na nossa Igreja!), aos poucos muitas comunidades cristãs perderam a sua dimensão profética de denúncia e anúncio, configurando-se ao mundo neo-liberal de consumismo e gratificação emocional imediata, tornando o Evangelho uma mercadoria a ser vendida através dum marketing, que jamais pode questionar os valores da sociedade vigente.  Como escreveu uma vez o Frei Beto, a religião assim “brilha sob as luzes da ribalta, trocando o silêncio pela histeria pública, a meditação pela emoção,, a liturgia pela dança aeróbica.  Na esfera católica, torna o produto mais palatável, destituindo-o de três fatores fundamentais na constituição da igreja, mas inadequados ao mercado: a inserção dos fiéis em comunidades, a  reflexão bíblico-teológica e o compromisso pastoral no serviço à justiça.  As homilias se reduzem a breves exortações que não incomodam as consciências”. (Estadão 03.11.99).

 

Assim o texto de hoje nos trazem um alerta – Jesus não veio compactuar com uma religião exploradora, alienadora e aliada ao poder, mas para encarnar as opções do Deus Javé, libertador dos males e de toda exploração; ele veio “para que todos tenham a vida e a vida em abundância” (Jo 10,10).  Uma religião que abandona a sua função profética é tão traidora como a religião decadente das elites do Templo. Nos últios anos, diante da arrogância despótica de George W. Bush e os seus aliados, verdadeiros criminosos de guerra, diante do massacre em Gaza, diante da tragédia de Darfur e do Congo, as vozes de Bento XVI, do Arcebispo Desmond Tutu, do Dalai Lama e de outros lideres religiosos soaram profeticamente ao redor do mundo, lembrando-nos que a religião não se confina à sacristia, mas tem que levar à prática dos princípios do Reino, que recusa a legitimar o derramamento de sangue em troca de petróleo ou minérios. A Campanha da Fraternidade 2009 convoca todos os cristãos para que recuperem essa dimensão profética na luta em favor da verdadeira segurança com o lema “A Paz É Fruto da Justiça” (Is 32,17), e não das armas, dos bombardeios ou da repressão policial.  Aproveitemos do “tempo oportuno” que é a Quaresma para reavaliar a nossa prática religiosa, para que não caia na desgraça do Templo –  de ser bonita, atraente e emocionante, mas vazia de sentido.

 

Tomaz Hughes SVD

e-mail: thughes@netpar.com.br

 

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