COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS DEFUNTOS (02.11.14)

“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo e eu vos aliviarei” Mt 11, 25-30

A celebração de hoje, de enorme importância na prática religiosa do povo brasileiro, deve ser vista em relação com a de ontem, dia 1 de novembro - a Festa de Todos os Santos. É a grande celebração da “Comunhão dos Santos” - nós, a Igreja peregrina, ontem comemoramos a Igreja já vivendo a plenitude de vida com Deus; e hoje comemoramos a Igreja ainda em processo de purificação (a palavra “purgatório” vem do termo latino que significa “purificar” e não “sofrer”).

No fundo, celebramos o imenso amor de Deus para conosco, todos participantes daquilo que celebramos todos os domingos no Credo quando declaramos que acreditamos, “Na Comunhão dos Santos, na Ressurreição da Carne e na Vida eterna”. Embora para muitas pessoas a celebração de hoje traga sentimentos de tristeza, pois suscita lembranças e saudades dos seus entes queridos já falecidos, realmente é uma celebração de esperança e confiança na bondade, no perdão e no amor de Deus. A primeira leitura de hoje, tirada do II Macabeus 12, 43-46, lembra que o líder judeu, Judas Macabeu, organizou uma coleta para custear sacrifícios oferecidos pela descanso eterno dos mortos, recebendo assim um elogio do autor do livro junto com o comentário “...belo e santo modo de agir, decorrente da sua crença na ressurreição! Pois, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma belíssima recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento. Eis porque ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de seus faltas”.

Nada deve marcar tanto a vida do cristão quanto a sua fé na Ressurreição. É o fundamento de tudo. Paulo, polemizando com a elite da comunidade de Corinto, que, influenciada pela filosofia grega, negava a realidade da Ressurreição do corpo (embora aceitasse a imortalidade da alma, o que é diferente) insiste: “Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação e vazia e a nossa fé em vão. Se os mortos não ressuscitam, Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a sua fé não vale nada e estão ainda no seu pecado” (I Cor 15 , 13-18). Não há reencarnação, nem somente imortalidade da alma, mas a ressurreição do corpo – seguindo Cristo, passamos pela morte e continuamos vivos como ele, Primogênito dos mortos, em uma vida plena com Deus. Por isso, hoje torna-se, apesar dos sentimentos de saudade e tristeza que são naturais, a celebração do fundamento da nossa fé – a morte foi vencida, o mal é um derrotado, o pecado foi derrubado e celebramos o grande dom de Deus – que vamos participamos na sua vida plena e eterna! Nem sempre o Povo de Deus tinha esta fé – até quase o tempo dos Macabeus, uns 200 anos antes de Jesus, se acreditava no Sheol – a “mansão dos mortos”, destino final de todos, lugar sem vida, sem felicidade.

Por isso se acreditava muito na “teologia de retribuição” – ou seja, que Deus recompensa os bons já nesta vida com riquezas, saúde e prosperidade enquanto castiga os injustos com doenças, pobreza e morte precoce. Mas entre os sofridos nasceu um grande questionamento – isso não se verifica na verdade das nossas vidas. Muitas vezes os justos sofrem, são perseguidos e carecem de tudo enquanto os malvados se enriquecem e prosperam. Assim, devagar, nasceu a fé na ressurreição dos mortos, onde a justiça de Deus se manifesta e onde o destino dos justos, apesar dos seus erros e falhas, é participar da vida plena de Deus. Assim, Jesus conclama, na Evangelho de hoje, todos os que sofrem para que ouçam a aceitem a sua mensagem de fé no Deus misericordioso, compassivo, de perdão e amor, e rejeitem o que foi muitas vezes pregado pela religião oficial do seu tempo – que os pobres e doentes são os rejeitados por Deus enquanto os prósperos e abastados são abençoados. Jesus convida a todos para que assumamos a sua “Boa nova” e lutemos por um mundo de vida para todos, pois ele veio para que todos - e não somente os privilegiados pela sociedade materialista e excludente – tivessem “a vida e a vida em abundância” (Cf Jo 10,10).

Pe. Tomaz Hughes SVD

e-mail: thughes@netpar.com.br

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